2008/12/31
All over the wide lea;
With quickening pace my horse drew nigh
Those paths so dear to me.
WILLIAM WORDSWORTH, U.K.,
in "Strange fits of Passion Have I Known", 1830
Na lua fixei o olhar,
E em todo o vasto campo;
Com passo vivo o meu cavalo aproximou-se
Dos caminhos que me são tão queridos.
2008/12/25
2008/12/23
Dans quel but venons-nous sur ce vieux monde, et d'où?
Sommes-nous seuls? Pourquoi le Mal? Pourquoi la Terre?
Pourquoi l'éternité stupide? Pourquoi tout?
Mais non! Mais non, qu'importe à la mêlée humaine?
L'illusion nous tient! - et nous mène à son port.
Et Paris qui mourra faisant trêve à sa peine
Vers les cieux éternels braille un Noel encore.
JULES LAFORGUE, França,
in "Noel Résigné", 1880
Comer, rir, cantar, - porém tudo é mistério!
Com que fim vimos a este velho mundo, e de onde?
Estamos sós? Porquê o Mal? Porquê a Terra?
Porquê a eternidade estúpida? Porquê tudo?
Mas não! Mas não, que importa à turba humana?
A ilusão prende-nos! - conduz-nos ao seu porto.
E Paris que há-de morrer dá trégua às suas penas:
Aos céus eternos apregoa outro Natal.
2008/12/15
2008/12/05
2008/12/02
And the northern river like moss
Robes herself slowly through
The cold township of York,
More slowly than usual
For a cold, northern river,
You see the citizens
Indulging stately pleasures,
Like swans. But they seem cold.
Why have they been so punished;
In what do their sins consist now?
JON SILKIN, U.K.,
in "Astringencies", The Coldness, 1961
Onde o trabalho de impressão reforça uma igreja
E a norte o rio como musgo
Se cobre e lento percorre
O frio condado de York,
Mais lento do que o costume
Para um rio do norte, frio,
Vemos os cidadãos
Entregarem-se a prazeres magníficos,
Como cisnes. Mas parecem frios.
Porque foram tão castigados;
Em que consistem agora os seus pecados?
2008/11/23
ing; public flowers were stars.
The flowers were secretaries civil servants clerks inspect-
ing me, their stalks like legs of secretary birds.
The bird-beaked people, come to see and ask, were glare-
accusing mass of stars.
JEFF NUTTALL, U.K., in "In The Park", 1965
As estrelas eram flores públicas, altos caules inclinados,
- a observar; as flores públicas eram estrelas.
As flores eram secretárias funcionários públicos escrivães
- a inspeccionar-me, caules como pernas de serpentários.
As pessoas bico de pássaro chegavam viam e perguntavam,
fulminantes - acusadora massa de estrelas.
2008/11/09
VASCO PULIDO VALENTE, Portugal,
in "Opinião", jornal Público, 9.11.2008
2008/11/08
VICENTE JORGE SILVA, Portugal,
in jornal "SOL", 8.11.2008
LAURINDA ALVES, Portugal,
in Jornal PÚBLICO, 07.11.2008
2008/11/07
É 1h23 da manhã. Um rapaz sobe para o tecto de uma paragem de autocarro e começa a gingar a anca. A multidão desata a dançar, dentro da paragem de autocarro e por toda a rua, dezenas de milhares de pessoas nos quarteirões em volta. Não há música. Esta é a música.
ALEXANDRA LUCAS COELHO, Portugal,
in "Viagens com bolso", Ípsilon, jornal Público 07.11.08
2008/11/05
2008/11/02
VASCO PULIDO VALENTE, Portugal,
in "Opinião", jornal Público, 2.11.2008
2008/10/23
JULIAN BARNES, U.K., in "The Silence"
The Lemon Table, 2004
Há pelo menos um sentimento que se torna mais forte em mim a cada ano que passa - o desejo de ver as garças. Nesta altura do ano subo à colina e observo o céu. Hoje elas não vieram. Só havia gansos selvagens. Os gansos seriam lindos se não existissem as garças.
2008/10/21
Prémio Nobel da Literatura, 2008)
Le rythme n’est pas forcément dans la civilisation; le retour vers le monde n’est pas un retour au primitivisme; le monde que s’est crée l’homme est aussi la «nature»: les réfrigérateurs, les automobiles, les avions, les ponts et les autoroutes, les immeubles de béton ne sont pas des décors; ne sont pas des miroirs. Ils sont vivants, ils ont leur existence propre, ils donnent autant qu’ils reçoivent. Les fleuves, les forêts, les chaînes de montagnes ne valent pas plus qu’eux. Sur la terre, qui existe, les inventions des hommes n’ont plus besoin d’être inventées. Elles appartiennent au dessin de l’univers.
J. M. G. le CLÉZIO, França,
in “L’infiniment moyen”, 1967
O ritmo não está forçosamente na civilização; o regresso ao mundo não é um regresso ao primitivismo; o mundo que o homem criou também é a «natureza»: os frigoríficos, os automóveis, os aviões, as pontes e as auto-estradas, os prédios de betão não são cenários; não são espelhos. Estão vivos, têm a sua existência própria, dão tanto quanto recebem. Os rios, as florestas, as cordilheiras de montanhas não valem mais do que eles. Sobre a terra, que existe, as invenções dos homens já não têm de ser inventadas. Pertencem ao desenho do universo.
2008/10/19
Agora, andam muito assustados com a crise - e não apenas pelas razões que nos assustam a todos. Para eles, é como se a armada invencível a que pertencem começasse, derrotada, a afundar-se sob um céu vazio de um deus vencido pelo diabo. A hubris gerou a Némesis.
JOSÉ MANUEL DOS SANTOS, Portugal,
in impressão digital, "Expresso" 18.10.2008
2008/10/10
em cheio no alvo porque o não vejo:
por pensamento e paixão,
ou porque foi tão sentido o vento a luzir nos botões dos salgueiros,
como se atirasse do outro lado do vento,
ou na solidão de um sonho,
ou como se tudo fosse o mesmo: flecha e alvo ―
e
cego
acerto em cheio:
porque não quero
HERBERTO HELDER, Portugal,
in "A Faca Não Corta o Fogo", 2008
2008/10/06
Of all the Souls that stand create -
I have elected - One -
When Sense from Spirit - files away -
And Subterfuge - is done -
When that which is - and that which was -
Apart - intrinsic - stand -
And this brief Drama in the flesh -
Is shifted - like a Sand -
When Figures show their royal Front -
And Mists - are carved away,
Behold the Atom - I preferred -
To all the lists of Clay!
EMILY DICKINSON, E.U.A.,
in "Poems", 1862
De todas as Almas que foram criadas -
Eu escolhi - Uma -
Quando o Sentido foge ao Espírito; -
E o Subterfúgio - é feito -
Quando aquilo que é - e aquilo que foi -
Separados - intrínsecos - se erguem -
E este breve Drama da carne -
Se escoa - como Areia -
Quando as Figuras mostram a Fronte real -
E as Brumas - se desmancham,
Fixai o Átomo - que eu preferi -
Às listas todas do Barro!
2008/10/01
BERTHA ROSA-LIMPO, Portugal,
in "O Livro de Pantagruel", 1947
2008/09/20
LUÍS CAMPOS E CUNHA, Portugal,
in jornal “Público”, 19.09.2008
2008/09/18
ALDOUS HUXLEY, U.K.,
in "After the Fireworks", 1930
O que se pode fazer neste mundo? Enfrentar corajosamente a realidade, lutar com ela, aceitar sofrer com resignação ou lutar heroicamente. Ou então fugir. Na prática até os heróis mais fortes praticam um pouco a fuga ― fogem da responsabilidade para a ignorância deliberada, do facto incómodo para a imaginação. Até os mais fortes.
2008/09/03
― She's an angel.
― That's Blanca, that's the one.
― Is she blond?
― No, she's dark-haired, like me.
― A brunette.
― Well, I don't know about that.
― You just said she was.
― Yeah, I just don't like to hear my sister talked about that way.
MIRANDA JULY, U.S.A,
in "No One Belongs Here More Than You", 2007
― E como é ela?
― É um anjo.
― É a Blanca, é essa.
― É loura?
― Não. Tem cabelo escuro, como eu.
― É morena.
― Bom, isso já não sei.
― Acabaste de o dizer.
― Pois, mas não gosto de ouvir falar assim da minha irmã.
2008/08/26
cuckolded for a season.
And she speaks ill of light women,
and will not praise Homer
Because Helen's conduct is "unsuitable".
EZRA POUND, U.S.A.,
in "Homage to Sextus Propertius", 1919
Nobre é morrer de amor, e honroso não ser en-
cornado por um tempo.
E das mulheres levianas ela fala mal,
e não exalta Homero
Porque é "imprópria" a conduta de Helena.
2008/08/15
pior que a casa incendiada; enquanto
se abate a trave-mestra, o fragor
da destruição repercute-se cada vez mais depressa;
e tu contemplas tudo aquilo, inane
testemunha da danação.
Como uma bebedeira a glória devora
a casa da alma, revela que trabalhaste
para coisa pouca: para ela ―
ah, queria que esse beijo traiçoeiro nunca tivesse
molhado a minha face: queria
fundir-me, só, para sempre, na obscuridade, na noite.
HERBERTO HELDER, Portugal,
"Glória ― Malcolm Lowry", 1993
2008/07/26
E eu tenho frio.
Estou na aldeia. A chuva estaleja nas vidraças e o vento assobia nos vigamentos. Os cabeços dos montes escondem-se nas névoas que vêm descendo, como em Janeiro, e se desfazem em aguaceiros glaciais. Agora deponho a pena para espirrar. Anuncia-se-me a décima quarta bronquite desta quadra de zéfiros, rouxinóis e flores.
Aqui estou, pois, numa terra onde não há estradas, nem gente, nem Verão. Moscas há mais que as da praga. Eis-me constituído um faraó desta canalha.
CAMILO CASTELO BRANCO, Portugal,
"Cousas Leves e Pesadas", 1866
2008/07/07
VITORINO NEMÉSIO, Portugal,
in "Primeiro Corso", 1946
2008/06/27
In the Beginning the Earth was an infinite and murky plain, separated from the sky and from the grey salt sea and smothered in a shadowy twilight. There were neither Sun nor Moon nor Stars. Yet, far away, lived the Sky-dwellers: youthfully indifferent beings, human in form but with the feet of emus, their golden hair glittering like spiders’ webs in the sunset, ageless and unageing, having existed for ever in their green, well-watered Paradise beyond the Western Clouds.
On the surface of the Earth, the only features were certain hollows which would, one day, be waterholes. There were no animals and no plants, yet clustered round the waterholes there were pulpy masses of matter: lumps of primordial soup – soundless, sightless, unbreathing, unawake and unsleping – each containing the essence of life, or the possibility of becoming human.
BRUCE CHATWIN, U.K., in “The Songlines”, 1987
No Princípio a Terra era uma planície infinita e sombria, separada do céu e do salgado mar cinzento e oculta num crepúsculo vago. Não havia Sol nem Lua nem Estrelas. Porém, muito longe, viviam os Habitantes do Céu: seres com a indiferença da juventude, humanos na forma mas com pés de avestruz e cabelos dourados refulgindo ao pôr-do-sol como teias de aranha, sem idade e sem envelhecer, existindo desde sempre no seu Paraíso verde, bem regado, para lá das Nuvens Ocidentais.
Na superfície da Terra, as únicas particularidades eram certas covas que, um dia, seriam poços de água. Não havia animais nem plantas mas, agrupadas em volta dos poços de água, havia massas de matéria suculenta: grumos de sopa primordial - silenciosos, cegos, sem respirar, inconscientes e vigilantes - cada um contendo a essência da vida ou a possibilidade de se tornar humano.
2008/06/13
Bem sei: se ergo os olhos, está deante de mim a linha sordida da casaria, as janellas por lavar de todos os escriptorios da Baixa, as janellas sem sentido dos andares mais altos onde ainda se mora, e, ao alto, no angular das trapeiras, a roupa de sempre, ao sol entre vasos e plantas. Sei isto, mas é tam suave a luz que doura tudo isto, tam sem sentido o ar calmo que me involve, que não tenho razão sequer visual para abdicar da minha aldeia postiça, da minha villa de provincia onde o commercio é um socego.
FERNANDO PESSOA, Portugal,
in "Livro do Desassossego", 1933
2008/06/07
JULIAN BARNES, U.K., “East Wind”,
in “The New Yorker” May 19, 2008
Eles drogavam as raparigas porque dava resultado. Os nadadores da Alemanha de Leste ganhavam medalhas em toda a parte, sobretudo as mulheres. Não que Andrea tivesse atingido esse nível. Quando o Muro de Berlim caiu e o escândalo rebentou, quando levaram a tribunal os treinadores, médicos, burocratas – os envenenadores –, o nome dela não foi sequer mencionado. Apesar das pílulas, não chegara à selecção nacional. As outras, as que tornaram público o que lhes tinha sido feito ao corpo e ao espírito, tinham ao menos medalhas de ouro e alguns anos de fama para mostar. Andrea acabara sem nada a não ser uma medalha de estafetas num campeonato esquecido dum país que já não existia.
2008/06/06
MARK THOMPSON,
in "TIME" June 6, 2008
Pela primeira vez na história, um número crescente e muito elevado das tropas americanas em combate toma diariamente doses de antidepressivos para acalmar os nervos cansados dos giros demorados e repetidos no Iraque e no Afeganistão. Os medicamentos destinam-se não só a ajudar as tropas a manter a calma, mas também a permitir que o exército já desfalcado conserve o seu recurso mais precioso: soldados na linha da frente. Dados incluídos no quinto relatório da Equipa Consultora de Saúde Mental do Exército indicam que, segundo um estudo anónimo sobre as tropas americanas levado a cabo no passado Outono, cerca de 12% das tropas que combatem no Iraque e 17% das que se encontram no Afeganistão tomam antidepressivos ou comprimidos para dormir, receitados para as ajudar a enfrentar a situação.
2008/05/31
WILLLIAM BUTLER YEATS, Irlanda,
in “Rosa Alchemica”, 1895
Algumas vezes, mas só por um momento, vi uma figura solitária e vaga, com o rosto velado da Rosa, que transportava um archote de luz fraca e passava lesta entre os dançarinos, mas como sonho dentro de um sonho, sombra de uma sombra; e soube de fonte mais funda do que aquela que o pensamento conhece, que era o próprio Eros, e que tinha o rosto velado porque nenhum homem ou mulher desde o início do mundo soube alguma vez o que é o amor, ou olhou nos seus olhos, porque das divindades só Eros é inteiramente espírito e se esconde em paixões de essência alheia à sua, quando quer comungar com um coração mortal. Por isso, quando um homem ama com nobreza conhece o amor através da compaixão infinita, da confiança indizível, da afinidade eterna; se ama sem nobreza conhece-o através do ciúme intenso, da aversão repentina e do desejo insaciável; mas não conhece nunca o amor sem véu.
2008/05/22
in http://www.ana-de-amsterdam.blogspot.com/
20.05.2008
2008/05/18
2008/05/14
«A lot of people try to think up ideas. I’m not one. I’d rather accept the irresistible possibilities of what I can’t ignore.» He added: «Anything you do will be an abuse of somebody else’s aesthetics. I think you’re born an artist or not. I couldn’t have learned it, and I hope I never do because knowing more only encourages your limitations.»
ROBERT RAUSCHENBERG, U.S.A., 1925-2008,
The New York Times, 14.05.2008
«Há uma data de gente que tenta arranjar ideias. Eu não. Prefiro aceitar as possibilidades irresistíveis daquilo que não posso ignorar.» E ainda: «O que quer que façamos será um abuso da estética do outro. Acho que ou se nasce artista ou não. Eu não podia ter aprendido isso e espero nunca aprender, porque saber mais só estimula as nossas limitações.»
2008/05/08
Who threw words like stones and who wore torn clothes.
Their thighs showed through rags. They ran in the street
And climbed cliffs and stripped by the country streams.
I feared more than tigers their muscles like iron
Their jerking hands and their knees tight on my arms.
I feared the salt coarse pointing of those boys
Who copied my lisp behind me on the road.
They were lithe, they sprang out behind hedges
Like dogs to bark at my world. They threw mud
While I looked the other way, pretending to smile.
I longed to forgive them, but they never smiled.
STEPHEN SPENDER, U.K., 1932
Os meus pais protegiam-me das crianças que eram rudes
Que atiravam palavras como pedras e andavam rotas.
Via-lhes as coxas através dos rasgões. Corriam pela rua
Escalavam penhascos e despiam-se nas ribeiras.
Mais do que tigres eu temia os músculos de aço
As mãos bruscas e os joelhos que me apertavam os braços.
Temia o apontar indecente e vulgar desses rapazes
Que imitavam o meu ciciar na estrada atrás de mim.
Eram ágeis, saltavam de trás das sebes
Como cães a ladrar ao meu mundo. Atiravam lama
Enquanto eu olhava para outro lado, fingindo que sorria.
Ansiava por lhes perdoar, mas eles nunca sorriam.
2008/05/05
There is never wide enough space
There is never blue enough for heaven
There is never white enough for light
There is never a three-dimensional sheet of paper
Where words may climb and dive
And praise loop the loop of aeroplanes
STEPHEN SPENDER, U.K.
in "Variations on my life", 1934
Nunca há ar suficiente
Nunca há espaço suficientemente largo
Nunca há suficiente azul para o paraíso
Nunca há suficiente branco para a luz
Nunca há uma folha de papel tridimensional
Onde as palavras possam escalar e mergulhar
E a veneração enlaçar o voo em espiral das aeronaves.
2008/05/03
That was my life
False social puppet painted with false mouth
Yet in that mouth this voice
That is not quite all death
But its own truth witnessing its justice with living breath
STEPHEN SPENDER, U.K.,
in "Variations on my life", 1934
Baixar os olhos para a minha vida
Essa foi a minha vida
Falso fantoche social pintado de boca falsa
Mas nessa boca esta voz
Que não é toda morte
Mas sua própria verdade que vê sua justiça com vivo respirar
2008/04/25
2008/04/23
...................
That our garments, being, as they were, drench'd in the sea, hold, notwithstanding, their freshness and glosses, being rather new-dy'd, than stain'd with salt water.
WILLIAM SHAKESPEARE, U.K.
"The Tempest", Act Two, Scene I (1613)
Gonzalo. Aqui tudo favorece a vida.
...................
E nossas vestes que, em verdade, se encharcaram no mar, conservam, não obstante, frescura e polimento, tingidas de nova cor e sem manchas de água salgada.
2008/04/10
and, though a magnolia tree
in Dulwich Park held out
white lilies to us, we turned
away; we hurried past
children playing on grass
and admired only mongrel dogs
with tough appetites: it was
a lonely place between splayed thighs.
EDWIN BROCK, U.K., in “Diary Entry”, 1965
Desconfiávamos de violinos
e, embora uma magnólia
em Dulwich Park nos oferecesse
lírios brancos, virávamos-lhe
as costas; passávamos a correr
pelas crianças que brincam na relva
e só admirávamos cães rafeiros
com apetites desordeiros; era
um lugar solitário entre coxas oblíquas.
2008/04/06
CHARLES BAUDELAIRE, França, Le Spleen de Paris, 1865, in "L'Invitation au Voyage"
Sonhos! Sempre sonhos! E quanto mais a alma é ambiciosa e delicada, mais os sonhos se afastam do possível. Cada homem traz em si a sua dose de ópio natural, incessantemente segregada e renovada e, do nascimento até à morte, quantas horas podemos contar repletas de fruição positiva, de acção conseguida e determinada?
2008/04/05
UNIQLO Magazine, NY
À medida que as semanas passam, para toda a gente prazos, reuniões e idas ao médico ficam branqueados pelo sol e caem no esquecimento. A ideia de trabalho parece surgir unicamente em frases como «Pá, hoje tenho que sair mais cedo do trabalho.»
2008/03/29
2008/03/27
2008/03/23
2008/03/19
Que um momento o levantou
Um vago anseio de viagem
Que o coração me toldou.
Será que em seu movimento
A brisa lembre a partida,
Ou que a largueza do vento
Lembre o ar livre da ida?
Não sei, mas subitamente
Sinto a tristeza de estar
O sonho triste que há rente
Entre sonhar e sonhar.
FERNANDO PESSOA, Portugal,
in "O Peso de Haver o Mundo", 19-5-1932