2007/10/31

LE VIN PERDU

J'ai quelque jour, dans l'Océan,
(Mais je ne sais plus sous quels cieux)
Jeté, comme offrande au néant,
Tout un peu de vin précieux...

Qui voulut ta perte, ô liqueur?
J'obéis peut-être au devin?
Peut-être au souci de mon coeur,
Songeant au sang, versant le vin?

Sa transparence accoutumée
Après une rose fumée
Reprit aussi pure la mer...

Perdu ce vin, ivres les ondes!...
J'ai vu bondir dans l'air amer
Les figures les plus profondes...

PAUL VALÉRY, França, "Charmes" (1922)

O VINHO PERDIDO

Lancei um dia, ao Oceano,
(Mas já não sei sob que céus)
Como oferenda feita ao nada
Um pouco de precioso vinho...

Quem quis perder-te, ó licor?
Obedecerei talvez ao adivinho?
Talvez aos cuidados do meu coração,
Pensando no sangue, deitando o vinho?

A transparência do costume
Após um rosado fumo
Recuperou-a pura, o mar...

Perdido o vinho, ondas embriagadas!...
Vi irromper no ar salgado
As figuras mais profundas...

2007/10/25



I was a traveller then upon the moor;
I saw the hare that raced about with joy;
I heard the woods and distant waters roar;
Or heard them not, as happy as a boy:
The pleasant season did my heart employ:
My old remembrances went from me wholly;
And all the ways of men, so vain and melancholy.

“Resolution and Independence” (III)

WILLIAM WORDSWORTH, 1770-1850, U.K.



Viajava nesse tempo pelo matagal;
Via a lebre que corria veloz, com alegria;
Ouvia bramir florestas e distantes águas;
Ou nem as ouvia, feliz como um rapazinho:
A amena estação meu coração enchia:
Inteiras, as velhas lembranças me fugiam;
E todas as acções dos homens, sua vaidade e melancolia.

2007/10/14

2007/10/10


THE PARTY
They served tea in the sandpile, together with
Mudpies baked on the sidewalk.
After tea
The youngest said that he had had a good dinner,
The oldest dressed for a dance,
And they sallied forth together with watering pots
To moisten a rusted fire truck on account of it
Might rain.

I watched from my study,
Thought of my part in these contributions to world
Gaiety, and resolved
That the very least acknowledgement I could make
Would be to join them;
so we
All took our watering pots (filled with pies)
And poured tea on our dog. Then I kissed the children
And told them that when they grew up we would have
Real tea parties.
«That did be fun!» the youngest shouted, and ate pies
With wild surmise.


REED WHITTEMORE, E.U.A, n. 1919





A FESTA

Serviram o chá sobre o monte de areia, juntamente com
Bolos cozidos em cima do passeio.
Depois do chá
O mais novo disse que tinha jantado bem,
O mais velho vestiu-se para um baile,
E avançaram triunfantes, com regadores,
Para molharem um carro de bombeiros enferrujado, não fosse
A chuva cair.

Eu observava-os do escritório,
Pensava no meu papel e nestes contributos à animação
Do mundo, e resolvi
Que a mínima manifestação de apreço que podia dar
Era juntar-me a eles;
então todos
Pegámos nos nossos regadores (cheios de bolos)
E regámos o cão com chá. Depois beijei as crianças
E disse-lhes que quando crescessem daríamos
Chás a sério.
«Isso era engraçado!» gritou o mais novo; e comeu os bolos
Com natural desconfiança.

2007/10/04

2007/10/02

2007/10/01


JEWELS OF INDOOR GLASS

The broken glass on the stairs
shines in the electric light.
Whoever dropped the beer
was anti-social or too drunk
to sweep it up himself.
So the beauty goes, ground
under heel but shining, it
and the deposit lost. But
by the janitor’s broom
it is still sharp enough
for dog’s feet, babies’ hands,
and eyes pierced by its lights,
that he should curse the fool
and I should try to praise
the pieces of harmony.

ALAN DUGAN, USA, in “Poems”, 1967






JÓIAS DE VIDRO NO INTERIOR

Os vidros partidos nas escadas
brilham à luz eléctrica.
O que deixou cair a cerveja
era anti-social ou bêbado demais
para ser ele a limpá-la.
Assim a beleza vai, chão
sob o tacão mas a brilhar, ela
e o depósito perdido. Mas
junto à vassoura do porteiro
ainda é cortante
para patas de cães, mãos de bebés
e olhos trespassados pelas suas luzes,
o bastante para que ele maldiga o louco
e eu tente exaltar
os pedaços da harmonia.