2008/05/31





Sometimes, but only for a moment, I saw a faint solitary figure with a Rosa veiled face, and carrying a faint torch, flit among the dancers, but like a dream within a dream, like a shadow of a shadow, and I knew by an understanding born from a deeper fountain than thought, that it was Eros himself, and that his face was veiled because no man or woman from the beginning of the world has ever known what love is, or look into his eyes, for Eros alone of divinities is altogether a spirit, and hides in passions not of his essence if he would commune with a mortal heart. So that if a man love nobly he knows love through infinite pity, unspeakable trust, unending sympathy; and if ignobly through vehement jealousy, sudden hatred, and unappeasable desire; but unveiled love he never knows.

WILLLIAM BUTLER YEATS, Irlanda,
in “Rosa Alchemica”, 1895




Algumas vezes, mas só por um momento, vi uma figura solitária e vaga, com o rosto velado da Rosa, que transportava um archote de luz fraca e passava lesta entre os dançarinos, mas como sonho dentro de um sonho, sombra de uma sombra; e soube de fonte mais funda do que aquela que o pensamento conhece, que era o próprio Eros, e que tinha o rosto velado porque nenhum homem ou mulher desde o início do mundo soube alguma vez o que é o amor, ou olhou nos seus olhos, porque das divindades só Eros é inteiramente espírito e se esconde em paixões de essência alheia à sua, quando quer comungar com um coração mortal. Por isso, quando um homem ama com nobreza conhece o amor através da compaixão infinita, da confiança indizível, da afinidade eterna; se ama sem nobreza conhece-o através do ciúme intenso, da aversão repentina e do desejo insaciável; mas não conhece nunca o amor sem véu.

2008/05/22






«Os negros sul-africanos não matam os imigrantes moçambicanos e zimbabueanos por distantes sentimentos de isolamento incutidos pelo Apartheid. Os negros sul-africanos matam os negros moçambicanos e zimbabueanos por motivos mais prosaicos. Acham que estes ficam com as suas casas e usurpam os seus empregos. Por fim, resta dizer que, comparada com a brutalidade dos ataques na África do Sul, a xenofobia europeia, que se disfarça com discursos, que se artilha de argumentos, que usa botões de punho, que muitas vezes tem representação parlamentar, que mói, mas raramente mata, parece aceitável, quase inócua. Não é.»

in http://www.ana-de-amsterdam.blogspot.com/
20.05.2008

2008/05/18


She was a very old lady,
I never saw her again.

EZRA POUND, U.K.,
in "Langue D'Oc , VIII, Ritratto", 1915




Ela era muito velha,
Eu nunca mais a vi.

2008/05/14




«A lot of people try to think up ideas. I’m not one. I’d rather accept the irresistible possibilities of what I can’t ignore.» He added: «Anything you do will be an abuse of somebody else’s aesthetics. I think you’re born an artist or not. I couldn’t have learned it, and I hope I never do because knowing more only encourages your limitations.»

ROBERT RAUSCHENBERG, U.S.A., 1925-2008,

The New York Times, 14.05.2008

«Há uma data de gente que tenta arranjar ideias. Eu não. Prefiro aceitar as possibilidades irresistíveis daquilo que não posso ignorar.» E ainda: «O que quer que façamos será um abuso da estética do outro. Acho que ou se nasce artista ou não. Eu não podia ter aprendido isso e espero nunca aprender, porque saber mais só estimula as nossas limitações.»


2008/05/08


My parents kept me from children who were rough
Who threw words like stones and who wore torn clothes.
Their thighs showed through rags. They ran in the street
And climbed cliffs and stripped by the country streams.

I feared more than tigers their muscles like iron
Their jerking hands and their knees tight on my arms.
I feared the salt coarse pointing of those boys
Who copied my lisp behind me on the road.

They were lithe, they sprang out behind hedges
Like dogs to bark at my world. They threw mud
While I looked the other way, pretending to smile.
I longed to forgive them, but they never smiled.

STEPHEN SPENDER, U.K., 1932




Os meus pais protegiam-me das crianças que eram rudes
Que atiravam palavras como pedras e andavam rotas.
Via-lhes as coxas através dos rasgões. Corriam pela rua
Escalavam penhascos e despiam-se nas ribeiras.

Mais do que tigres eu temia os músculos de aço
As mãos bruscas e os joelhos que me apertavam os braços.
Temia o apontar indecente e vulgar desses rapazes
Que imitavam o meu ciciar na estrada atrás de mim.

Eram ágeis, saltavam de trás das sebes
Como cães a ladrar ao meu mundo. Atiravam lama
Enquanto eu olhava para outro lado, fingindo que sorria.
Ansiava por lhes perdoar, mas eles nunca sorriam.

2008/05/05


There is never enough air
There is never wide enough space
There is never blue enough for heaven
There is never white enough for light
There is never a three-dimensional sheet of paper
Where words may climb and dive
And praise loop the loop of aeroplanes

STEPHEN SPENDER, U.K.
in "Variations on my life", 1934




Nunca há ar suficiente
Nunca há espaço suficientemente largo
Nunca há suficiente azul para o paraíso
Nunca há suficiente branco para a luz
Nunca há uma folha de papel tridimensional
Onde as palavras possam escalar e mergulhar
E a veneração enlaçar o voo em espiral das aeronaves.

2008/05/03









To look down on my life
That was my life
False social puppet painted with false mouth
Yet in that mouth this voice
That is not quite all death
But its own truth witnessing its justice with living breath

STEPHEN SPENDER, U.K.,
in "Variations on my life", 1934



Baixar os olhos para a minha vida
Essa foi a minha vida
Falso fantoche social pintado de boca falsa
Mas nessa boca esta voz
Que não é toda morte
Mas sua própria verdade que vê sua justiça com vivo respirar