2009/05/22


Para um tal hino à vida e ao amor (a palavra final da dedicatória de Clarence) foi preciso ir até às estrelas. Forçar um pouco a mão ao destino, para melhor tentar a liberdade. Não se trata de viajar no passado para descobrir a inelutabilidade dele, mas de não sair da mesma noite, para mostrar como o futuro a modifica.
(sobre "It's a Wonderful Life" de Frank Capra)

Há a consciência de que um filme é como um jardim ou como uma prosa, que precisa sempre de retoques. Ou de que um filme é como os anjos, ou é o espaço - o único espaço - em que os anjos podem pousar. Os anjos, não as palavras. Consumatum est.
(sobre "Nouvelle Vague" de Jean-Luc Godard)

JOÃO BÉNARD da COSTA, PORTUGAL, 1935-2009

2009/05/18


What are days for?
Days are where we live.
They come, they wake us
Time and time over.
They are to be happy in:
Where can we live but days?

Ah, solving that question
Brings the priest and the doctor
In their long coats
Running over the fields.

PHILIP LARKIN, U.K.
“Days”, The Whitsun Weddings, 1964




Para que são os dias?
É nos dias que vivemos.
Chegam, acordam-nos
Vezes sem conta.
Existem para neles sermos felizes:
Onde podemos viver senão nos dias?

Ah, o resolver desta questão
Leva o padre e o médico
Em suas vestes longas
A correr pelos campos.

2009/05/10



Tão longe - na costa do Pacífico! Iam conhecer a América, o novo mundo! Iam falar inglês, viver no país de tantos artistas que admiravam, e de tantos outros por descobrir, o país que dez anos antes ajudara a Europa a derrotar Hitler e a reconstruir-se. E São Francisco tinha fama de ser a cidade chic da Costa Oeste, uma cidade agradável e sofisticada.
Após uma breve estada em Portugal para as despedidas, que incluiu um passeio de automóvel ao norte de Portugal, Vasco e Margarida embarcaram com as filhas a caminho de Nova Iorque, acompanhados de Zulmira, que entrou nesse dia para a família e passou a ser a sua melhor aliada.

VERA FUTSCHER PEREIRA, PORTUGAL,
in "Retrovisor", 2009

2009/05/03


We walk along the waterfront. The night
fishermen’s boats are ready to set out,
motors chugging, paraffin lamps in the bows,
and the whole town’s out for the promenade,
lovers arm in arm, and young men swaggering,
mothers and fathers, children eating ice-cream,
old men watching from tables at pavement cafés,
and the darkening hills move closer, like friendly animals.

RICHARD BURNS, U.K.,
in "Volta", 2009




Caminhamos pelo cais. À noite
os barcos dos pescadores estão prestes a largar,
motores rugem, candeias de parafina à proa,
e toda a cidade anda na rua a passear,
amantes de braço dado e jovens emproados,
mães e pais, crianças a comer gelados,
velhos a olhar das mesas dos cafés, nos passeios,
e escuras, como animais benignos, acercam-se as colinas.