2008/01/31

2008/01/30

A big young bareheaded woman
in an apron

Her hair slicked back standing
on the street

One stockinged foot toeing
the sidewalk

Her shoe in her hand. Looking
intently into it

She pulls out the paper insole
to find the nail

That has been hurting her


WILLIAM CARLOS WILLIAMS, E.U.A.,
"Proletarian Portrait", 1947




Uma mulher grande jovem de cabeça descoberta
com um avental

Cabelo esticado para trás
parada na rua

Um pé com a meia apoiado
no passeio

Sapato na mão. Olha
lá para dentro com atenção

E puxa pela palmilha de papel
para encontrar o prego

Que tem estado a magoá-la

2008/01/23


Never ask leave to go abroad, for then it will be always known that you are absent, and you will be thought an idle rambling fellow, whereas, if you go out and nobody observes, you have a chance of coming home without being missed, and you need not tell your fellow-servants where you have gone, for they will be sure to say you were in the house but two minutes ago, which is the duty of all servants.

JONATHAN SWIFT, U.K., 1745, in "Directions to Servants"





Não tenteis nunca obter permissão para ir lá fora, porque desse modo sempre se saberá que vos ausentastes e sereis julgado vagabundo e preguiçoso, enquanto que, se sairdes sem ninguém vos ver, ser-vos-á possível regressar sem que dêem pela vossa falta e não precisais de contar aos outros criados onde fostes, pois decerto eles dirão que ainda há dois minutos estáveis em casa, como é dever de todos os criados.

2008/01/16


To say that Deronda was romantic would be to misrepresent him; but under his calm and somewhat self-repressed exterior there was a fervour which made him easily find poetry and romance among the events of everyday life. And perhaps poetry and romance are as plentiful as ever in the world except for those phlegmatic natures who I suspect would in any age have regarded them as a dull form of erroneous thinking. They exist very easily in the same room with the microscope and even in the railway carriages: what banishes them is the vacuum in gentlemen and lady passengers.

GEORGE ELIOT, U.K., in “Daniel Deronda”, 1876





Dizer que Deronda era romântico seria desvirtuá-lo; mas sob o seu exterior calmo e um pouco reprimido havia uma devoção que o fazia encontrar facilmente poesia e romantismo nos acontecimentos da vida quotidiana. E talvez poesia e romantismo abundem no mundo como sempre, excepto para as índoles impassíveis que, suspeito, em qualquer época os terão visto como uma forma de pensamento desacertado e sem interesse. Coexistem muito facilmente na mesma sala com o microscópio e até nas carruagens dos comboios: o que os afugenta é a vacuidade dos senhores e das senhoras passageiras.

2008/01/14





The twilight turns from amethyst
To deep and deeper blue,
The lamp fills with a pale green glow
The trees of the avenue.

The old piano plays in the air,
Sedate and slow and gay;
She bends upon the yellow keys,
Her head inclines this way.

Shy thoughts and grave wide eyes and hands
That wander as they list –
The twilight turns to darker blue
With lights of amethyst.


JAMES JOYCE, U.K., “Chamber music”, II, 1917




A luz do entardecer passa de ametista
A azul intenso e mais intenso,
O candeeiro enche de um clarão verde pálido
As árvores da avenida.

O velho piano toca uma ária
Tranquila e lenta e alegre;
Ela curva-se sobre as teclas amarelas,
A cabeça inclina-se para aqui.

Pensamentos tímidos, solenes mãos e olhos absortos
Que divagam enquanto escutam –
A luz do entardecer passa a azul mais escuro
Com brilhos de ametista.

2008/01/06


(em memória de Miguel v. G.)


Un jour, pourtant, un jour viendra
Couleur d’oranger
Un jour de palmes
Un jour de feuillages au front
Un jour d’épaules nues
Où les gens s’aimeront
Un jour comme un oiseau
Sur la plus haute branche.

LOUIS ARAGON, França, 1897-1972, in Un jour, un jour





Um dia, porém, um dia virá
Cor de laranjeira
Um dia de palmas,
Um dia de louros na fronte
Um dia de ombros nus
Em que as pessoas se amarão
Um dia como um pássaro
Sobre o ramo mais alto.

2008/01/03