2019/07/14


São hoje seis dias corridos do mês de Julho de 1866.
E eu tenho frio.
Estou na aldeia. A chuva estraleja nas vidraças e o vento assobia nos vigamentos. Os cabeços dos montes escondem-se nas névoas que vêm descendo, como em Janeiro, e se desfazem em aguaceiros glaciais. Agora deponho a pena para espirrar. Anuncia-se-me a décima quarta bronquite desta quadra de zéfiros, rouxinóis e flores.
Aqui estou, pois, numa terra onde não há estradas, nem gente, nem Verão. Moscas há mais do que as da praga. Eis-me constituído um faraó desta canalha.

CAMILO CASTELO BRANCO, Portugal
"Cousas Leves e Pesadas", 1866

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