Havia um sofá que se achava triste. E uma poltrona que vivia alegre. Havia uma cadeira de baloiço que ficava tonta. E uma mesa de centro que temia manchas. Havia dois quadros macambúzios na parede. Havia um tapete que queria ser uma estante. Havia uma estante que detestava livros. As almofadas do sofá viviam em alegre cavaqueira mas não convenciam ninguém. Nenhuma quisera ser solteira. Havia um candelabro apaixonado por um lustre de seis lâmpadas. Havia um lustre de seis lâmpadas com vertigens. Havia um pó traiçoeiro. Havia caruncho guerreiro. Havia uns mosaicos psicadélicos, que preferiam ser sóbrios. Havia uns redondos que queriam ser quadrados, havia uns vermelhos que queriam ser azuis. Havia riscas que queriam ser flores. Havia uns padrões dos anos oitenta, que queriam ser dos anos 30.
EILEEN ALMEIDA BARBOSA, Cabo Verde,
in “A Sala”, 2007
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