JOYCE CAROL OATES, E.U.A, in 'Wild Nights!', EDickinsonRepliLuxe, 2008
Havia alguma coisa de quase carnal no sorriso, profundamente perturbador para a esposa, a quem durante a vida tais sorrisos haviam sido raros e tinham há muito cessado inteiramente. A esposa disse, hesitante: 'Parece que nos conhecemos, querida Emily! Não é? A minha avó Loomis...' Mas a esposa não fazia ideia do que estava a dizer. Passou na face pequena e pálida da poeta uma sombra de arrepio. Os olhos ergueram-se para os olhos da esposa, fugazes como o golpe de uma lâmina, brincalhões, trocistas; e logo a seguir a poeta levantou-se e levou as coisas sujas do chá para a cozinha, onde lavou cuidadosamente as chávenas e as enxugou; limpou tudo, e a cozinha ficou imaculada. Constrangida, a esposa protestou: 'Mas a Emily é poeta! - parece mal trabalhar como -' e a poeta disse, na sua voz sussurrada: 'Senhora, ser meramente "poeta" - é não ser.' Parecendo assim frágil, a pequenina Emily irradiava uma vontade de aço, obstinada. A esposa foi-se embora abalada, e enternecida.
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