For a moment the room appeared to darken, as it used to do when he was about to perform some singular experiment, and in the darkness the peacocks upon the doors seemed to glow with a more intense color. I cast off the illusion, which was, I believe, merely caused by memory, and by the twilight of incense, for I would not acknowledge that he could overcome my now mature intellect; and I said: 'Even if I grant that I need a spiritual belief and some form of worship, why should I go to Eleusis and not to Calvary?' He leaned forward and began speaking with a slightly rhytmical intonation, and as he spoke I had to struggle again with the shadow, as of some older night than the night of the sun, which began to dim the light of the candles and to blot out the little gleams upon the corner of picture-frames and on the bronze divinities, and to turn the blue of the incense to a heavy purple, while it left the peacocks to glimmer and glow as though each separate color were a living spirit. I had fallen into a profound dreamlike reverie in which I heard him speaking as at a distance. 'And yet there is no one who communes with only one god,' he was saying, 'and the more a man lives in imagination and in a refined understanding, the more gods does he meet with and talk with, and the more does he come under the power of Roland, who sounded in the Valley of Roncesvalles the last trumpet of the body's will and pleasure; and of Hamlet, who saw them perishing away, and sighed; and of Faust, who looked for them up and down the world and could not find them; and under the power of all those countless divinities who have taken upon themselves spiritual bodies in the minds of the modern poets and romance writers, and under the power of the old divinities, who since the Renaissance have won everything of their ancient worship except the sacrifice of birds and fishes, the fragrance of garlands and the smoke of incense. The many think humanity made these divinities, and that it can unmake them again; but we who have seen them pass in rattling harness, and in soft robes, and heard them speak with articulate voices while we lay in deathlike trance, know that they are always making and unmaking humanity, which is indeed but the trembling of their lips.'
WILLIAM BUTLER YEATS, Irlanda,
in Rosa Alchemica, 1913
Por um momento julguei ver a sala escurecer, como era habitual antes de ele pôr em prática uma experiência singular e, na escuridão, os pavões que cobriam as portas pareceram brilhar com uma cor mais intensa. Rejeitei a ilusão que era, creio, meramente causada pela memória e pela luz fraca do incenso, pois não queria admitir que ele pudesse dominar-me a inteligência - agora, na maturidade. E disse-lhe: 'Ainda que admita precisar de uma crença espiritual e de alguma forma de culto, porque escolheria Elêusis e não o Calvário?' Inclinou-se e começou a falar com uma entoação levemente ritmada e, enquanto falava, tive de voltar a lutar com a sombra de uma noite mais antiga do que a noite solar, que começou a enfraquecer a luz das velas e a apagar os pequenos reflexos nos cantos das molduras e sobre as divindades de bronze e a transformar o azul do incenso em roxo denso; mas deixou os pavões a brilhar, incandescentes, como se cada cor só por si fosse um espírito vivo. Eu caíra em profundo devaneio, como num sonho, e ouvia-o falar como se estivesse longe: 'E no entanto não há ninguém que comungue com um só deus', dizia, 'e quanto mais o homem vive em imaginação e compreensão subtil, maior é o número de deuses que encontra e a quem fala, e mais fica sob o poder de Roland, que fez soar no Vale de Roncesvalles a última trombeta da vontade e do prazer do corpo; e de Hamlet, que os viu perecer e suspirou; e de Fausto, que os procurou pelo mundo inteiro e não os encontrou; e sob o poder de todas as incontáveis divindades, que decidiram pôr seus corpos espirituais na mente dos poetas e romancistas modernos; e sob o poder das velhas divindades que, desde o renascimento, tudo recuperaram do antigo culto, excepto o sacrifício de aves e de peixes, fragrância de grinaldas e fumo de incenso. A maioria pensa que foi a humanidade quem fez tais divindades e que pode voltar a desfazê-las; mas nós, que as vimos passar com estrepitosas armaduras e delicadas vestes, e as ouvimos falar com vozes claras enquanto jazíamos num transe igual ao da morte, sabemos que elas estão sempre a fazer e a desfazer a humanidade, que mais não é do que o frémito dos seus lábios.
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