JULIAN BARNES, in Nothing to be Frightened of,
UK 2008
Criamos a arte para derrotar ou, pelo menos, desafiar a morte? Para a transcender, para a pôr no seu lugar? Podes levar o meu corpo, podes levar toda a matéria viscosa que está dentro do meu crânio, onde se escondem a lucidez e a imaginação que eu possa ter, mas não podes levar o que fiz com elas. Esse é o nosso não dito e a nossa motivação? Muito provavelmente, embora sub specie aeternitatis (ou mesmo na perspectiva de um milénio ou dois) seja uma patetice. Os versos orgulhosos de Gautier, de que tanto gostei - tudo passa, excepto a arte e a sua resistência; morrem os reis mas, soberana, a poesia fica, mais forte do que o bronze - hoje parecem consolação de adolescente. Os gostos mudam; as verdades tornam-se lugares-comuns; há formas de arte que desaparecem por inteiro. Até o triunfo da arte sobre a morte é risível, temporário. Um romancista pode esperar mais uma geração de leitores - com sorte, duas ou três - e com isso sentir desdém pela morte; mas, na realidade, não passa de arranhão na parede da cela do condenado. Fazemo-lo para dizer: eu também aqui estive.
Criamos a arte para derrotar ou, pelo menos, desafiar a morte? Para a transcender, para a pôr no seu lugar? Podes levar o meu corpo, podes levar toda a matéria viscosa que está dentro do meu crânio, onde se escondem a lucidez e a imaginação que eu possa ter, mas não podes levar o que fiz com elas. Esse é o nosso não dito e a nossa motivação? Muito provavelmente, embora sub specie aeternitatis (ou mesmo na perspectiva de um milénio ou dois) seja uma patetice. Os versos orgulhosos de Gautier, de que tanto gostei - tudo passa, excepto a arte e a sua resistência; morrem os reis mas, soberana, a poesia fica, mais forte do que o bronze - hoje parecem consolação de adolescente. Os gostos mudam; as verdades tornam-se lugares-comuns; há formas de arte que desaparecem por inteiro. Até o triunfo da arte sobre a morte é risível, temporário. Um romancista pode esperar mais uma geração de leitores - com sorte, duas ou três - e com isso sentir desdém pela morte; mas, na realidade, não passa de arranhão na parede da cela do condenado. Fazemo-lo para dizer: eu também aqui estive.
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