2020/06/28



Do we create art in order to defeat, or at least defy, death? To transcend it, to put it in its place? You may take my body, you may take all the squidgy stuff inside my skull where lurks whatever lucidity and imagination I possess, but you cannot take away what I have done with them. Is that our subtext and our motivation? Most probably - though sub specie aeternitatis (or even the view of a millenium or two) it's pretty daft. Those proud lines of Gautier's I was once so attached to - everything passes, except art in its robustness; kings die, but sovereign poetry lasts longer than bronze - now read as adolescent consolation. Tastes change; truths become clichés; whole art forms disappear. Even the greatest art's triumph over death is risibly temporary. A novelist might hope for another generation of readers - two or three if lucky - which may feel like a scorning of death; but it's really just scratching  the wall of the condemned cell. We do it to say: I was here too.

JULIAN BARNES, in Nothing to be Frightened of,
UK 2008


Criamos a arte para derrotar ou, pelo menos, desafiar a morte? Para a transcender, para a pôr no seu lugar? Podes levar o meu corpo, podes levar toda a matéria viscosa que está dentro do meu crânio, onde se escondem a lucidez e a imaginação que eu possa ter, mas não podes levar o que fiz com elas. Esse é o nosso não dito e a nossa motivação? Muito provavelmente, embora sub specie aeternitatis (ou mesmo na perspectiva de um milénio ou dois) seja uma patetice. Os versos orgulhosos de Gautier, de que tanto gostei - tudo passa, excepto a arte e a sua resistência; morrem os reis mas, soberana, a poesia fica, mais forte do que o bronze - hoje parecem consolação de adolescente. Os gostos mudam; as verdades tornam-se lugares-comuns; há formas de arte que desaparecem por inteiro. Até o triunfo da arte sobre a morte é risível, temporário. Um romancista pode esperar mais uma geração de leitores - com sorte, duas ou três - e com isso sentir desdém pela morte; mas, na realidade, não passa de arranhão na parede da cela do condenado. Fazemo-lo para dizer: eu também aqui estive.

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