2015/05/03
A caseira tinha um filho pequeno chamado Artaxerxes. O nome arrevesado punha-o doido, e tornou-se, além disso, muito mau. Todos se espantavam de ele se chamar assim; e tudo era culpa de um padrinho rico que sabia muito de História antiga.
- Xerxes - dizia a mãe -, vai apanhar erva para os coelhos. - Ou então gritava do fundo do campo: - Xerxes... Xerxes, anda cá nino...
Nino queria dizer menino. E perro queria dizer zangado. A mãe de Xerxes, a senhora Teodora, estava quase sempre perra. Também tinha duas filhas, bonitas como só visto. Os cabelos brilhavam ao sol, ainda que tivessem em cima uma boa camada de cinza da lareira. Emília achava-as vaidosas e namoradeiras, mas Lourença pensava que elas tinham mais razão para isso do que Marta. E Marta não largava o espelho todo o santo dia. Isto do santo dia foi coisa que Lourença nunca percebeu. Quando a mãe se aborrecia com uma criada, dizia: «Não faz nada todo o santo dia.» E tomava um ar mortificado.
AGUSTINA BESSA-LUÍS, Portugal,
em Dentes de Rato, 2012
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