2012/12/27
Now as she said goodbye to the Exxon Executive she felt full of conviction, as though the whole aggregate of DNA inside her had intended her, saved itself through her for this one compensatory romance. And she didn't want companionship or cosy stability or equality or reasonable discussions ending in empty, literate compromises. She wanted high pleasure with impossible restrictions in between. Without the restrictions the pleasure could not flourish; they made it grow up strong. That ladies and gentlemen, was the Trick! And Shel - old handsome, tacit, sexual fatalist - Shel was the perfect accomplice. He required no explanations, no titles or offices. Like her, he could keep his eye on the single thing that was important and not spoil it with greed and vulgarity, like the crazy people who couldn't control their appetites, and proved all their lives that they hated beauty and pleasure. It was as though Shel had been born knowing the Trick.
MARY FLANAGAN, U.S.A., in A View of Manhattan,
terceiro conto de "Bad Girls"
Agora, ao despedir-se do executivo da Exxon sentia-se cheia de convicção, como se todo o ADN nela reunido a tivesse determinado e se guardasse através dela para este romance compensatório. E não queria companheirismo nem estabilidade e conforto nem compatibilidade cultural nem igualdade nem discussões razoáveis que acabavam em acordos vazios e literatos. Queria prazer puro, com restrições impossíveis pelo meio. Sem as restrições o prazer não podia florescer; elas faziam-no ganhar força. Esse, senhoras e senhores, era o Truque! E Shel - o fatalista de sempre, belo, tácito, sexual - Shel era o cúmplice perfeito. Não exigia explicações, nem títulos nem cartórios. Como ela, conseguia não perder de vista a única coisa que era importante e não a estragar com a avidez e vulgaridade dos idiotas que não conseguiam controlar os seus apetites e demonstravam durante a vida inteira que odiavam a beleza e o prazer. Era como se Shel soubesse o Truque desde que nasceu.
MARY FLANAGAN, U.S.A., in A View of Manhattan,
terceiro conto de "Bad Girls"
Agora, ao despedir-se do executivo da Exxon sentia-se cheia de convicção, como se todo o ADN nela reunido a tivesse determinado e se guardasse através dela para este romance compensatório. E não queria companheirismo nem estabilidade e conforto nem compatibilidade cultural nem igualdade nem discussões razoáveis que acabavam em acordos vazios e literatos. Queria prazer puro, com restrições impossíveis pelo meio. Sem as restrições o prazer não podia florescer; elas faziam-no ganhar força. Esse, senhoras e senhores, era o Truque! E Shel - o fatalista de sempre, belo, tácito, sexual - Shel era o cúmplice perfeito. Não exigia explicações, nem títulos nem cartórios. Como ela, conseguia não perder de vista a única coisa que era importante e não a estragar com a avidez e vulgaridade dos idiotas que não conseguiam controlar os seus apetites e demonstravam durante a vida inteira que odiavam a beleza e o prazer. Era como se Shel soubesse o Truque desde que nasceu.
She went out into the world again. All she saw there were a great many people pretending to be grown up, and all she knew was that her best energies seemed to have ebbed away in banks, restaurants, department stores, and school rooms without her knowing it, until she found herself, too late, a faded blonde. And those places were still there waiting for her, ready to suck out her vital forces in the name of restored stability. Wouldn't it be better to save what was left of those precious forces and squander them on Shel? Belatedly she kept her promise and called him.
MARY FLANAGAN, U.S.A., in A View of Manhattan,
terceiro conto de "Bad Girls"
Ela saiu e voltou ao mundo. O que viu foi uma grande quantidade de gente que fingia ser adulta e o que percebeu foi que o melhor da sua energia parecia ter-se perdido em bancos, restaurantes, armazéns e salas de aula sem ela saber, até que se viu, tarde demais, loura e sem brilho. E esses sítios continuavam à espera dela, prontos a sugar-lhe a vitalidade em nome da estabilidade recuperada. Não seria melhor poupar o que restava dessa vitalidade preciosa e esbanjá-la com Shel? Cumpriu a promessa atrasada e telefonou-lhe.
MARY FLANAGAN, U.S.A., in A View of Manhattan,
terceiro conto de "Bad Girls"
Ela saiu e voltou ao mundo. O que viu foi uma grande quantidade de gente que fingia ser adulta e o que percebeu foi que o melhor da sua energia parecia ter-se perdido em bancos, restaurantes, armazéns e salas de aula sem ela saber, até que se viu, tarde demais, loura e sem brilho. E esses sítios continuavam à espera dela, prontos a sugar-lhe a vitalidade em nome da estabilidade recuperada. Não seria melhor poupar o que restava dessa vitalidade preciosa e esbanjá-la com Shel? Cumpriu a promessa atrasada e telefonou-lhe.
2012/11/30
Lydia may not have been the world's greatest cook, but she was almost certainly the slowest. She was a fantasizer and a drunk. Moreover, she was addicted to opera. Now imagine what mealtimes at 99 Copenhagen Crescent, NW3, must have been like: tantalizing aromas accompanied by interminable waits, Callas at full decibels, the ever-present bottle of Bordeaux, the not infrequent failures which must, out of sheer physical necessity, be consumed. Her family suffered patiently.
MARY FLANAGAN, U.S.A., in Cream Sauce, primeiro conto de "BAD GIRLS" (1984)
Lydia poderia não ser a melhor cozinheira do mundo, mas era quase de certeza a mais lenta. Era fantasiosa e bêbeda. Além disso, era viciada em ópera. Agora imaginem como seriam as refeições no 99 de Copenhagen Crescent, NW3: aromas inebriantes acompanhados de esperas intermináveis, Callas em plenos decibéis, a sempre presente garrafa de Bordeaux, os não raros insucessos que tinham, por mera necessidade física, de ser consumidos. A famíla sofria, paciente.
MARY FLANAGAN, U.S.A., in Cream Sauce, primeiro conto de "BAD GIRLS" (1984)
Lydia poderia não ser a melhor cozinheira do mundo, mas era quase de certeza a mais lenta. Era fantasiosa e bêbeda. Além disso, era viciada em ópera. Agora imaginem como seriam as refeições no 99 de Copenhagen Crescent, NW3: aromas inebriantes acompanhados de esperas intermináveis, Callas em plenos decibéis, a sempre presente garrafa de Bordeaux, os não raros insucessos que tinham, por mera necessidade física, de ser consumidos. A famíla sofria, paciente.
2012/10/25
PASTA DAY
Winter Garden Macaroni
300gr wheat elbow or shell macaroni
1 iogurt
1/2 cup chopped green onion
Cook macaroni al dente in salt water and drain. Add iogurt and onion and toss lightly to blend. Serve hot. To make it a spring/summer dish, cool in refrigerator for at least three hours.
(in Los Angeles Times Magazine, U.S.A., 1975)
DIA MUNDIAL DA MASSA
Macarrão de Inverno
300gr de cotovelos ou búzios
1 iogurte
meia chávena de cebolinho picado
Cozer o macarrão al dente em água e sal e escorrer. Misturar com o iogurte e o cebolinho. Servir quente. No Verão levar ao frigorífico durante três horas.
Winter Garden Macaroni
300gr wheat elbow or shell macaroni
1 iogurt
1/2 cup chopped green onion
Cook macaroni al dente in salt water and drain. Add iogurt and onion and toss lightly to blend. Serve hot. To make it a spring/summer dish, cool in refrigerator for at least three hours.
(in Los Angeles Times Magazine, U.S.A., 1975)
DIA MUNDIAL DA MASSA
Macarrão de Inverno
300gr de cotovelos ou búzios
1 iogurte
meia chávena de cebolinho picado
Cozer o macarrão al dente em água e sal e escorrer. Misturar com o iogurte e o cebolinho. Servir quente. No Verão levar ao frigorífico durante três horas.
2012/09/27
À bientôt, chérie, nous nous arrêterons une semaine au plus à Chantepleurs, et nous serons chez toi vers le 10 mai. Nous allons donc nous revoir après plus de deux ans. Et quels changements! Nous voilà toutes deux femmes: moi la plus heureuse des maitresses, toi la plus heureuse des mères. Si je ne t'ai pas écrit, mon cher amour, je ne t'ai pas oubliée. Et mon filleul, ce singe, est-il toujours joli? Me fait-il honneur? Il aura plus de neuf mois. Je voudrais bien assister à ses premiers pas dans le monde; mais Macumer me dit que les enfants précoces marchent à peine à dix mois. Nous taillerons donc des bavettes, en style du Blésois. Je verrai si, comme on le dit, un enfant gâte la taille.
P.S. - Si tu me réponds, mère sublime, adresse ta lettre à Chantepleurs, je pars.
HONORÉ DE BALZAC, França, in Mémoires de Deux Jeunes Mariées, 1841
Até breve, querida, ficaremos no máximo uma semana em Chantepleurs, e estaremos em tua casa por volta de 10 de Maio. Voltaremos a ver-nos ao fim de mais de dois anos. E quantas mudanças! Eis-nos ambas mulheres: eu a mais feliz das amantes, tu a mais feliz das mães. Se não te escrevi, meu amor querido, também não te esqueci. E o meu afilhado, esse macaco, continua bonito? Está à minha altura? Deve ter mais de nove meses. Gostaria muito de assistir aos seus primeiros passos: mas Macumer diz que são raras as crianças, mesmo as precoces, que andam com dez meses. Faremos babetes à moda do Blésois. Verei se, como dizem, uma criança estraga a figura.
P.S. - Se me responderes, mãe sublime, envia a carta para Chantepleurs, agora vou.
P.S. - Si tu me réponds, mère sublime, adresse ta lettre à Chantepleurs, je pars.
HONORÉ DE BALZAC, França, in Mémoires de Deux Jeunes Mariées, 1841
Até breve, querida, ficaremos no máximo uma semana em Chantepleurs, e estaremos em tua casa por volta de 10 de Maio. Voltaremos a ver-nos ao fim de mais de dois anos. E quantas mudanças! Eis-nos ambas mulheres: eu a mais feliz das amantes, tu a mais feliz das mães. Se não te escrevi, meu amor querido, também não te esqueci. E o meu afilhado, esse macaco, continua bonito? Está à minha altura? Deve ter mais de nove meses. Gostaria muito de assistir aos seus primeiros passos: mas Macumer diz que são raras as crianças, mesmo as precoces, que andam com dez meses. Faremos babetes à moda do Blésois. Verei se, como dizem, uma criança estraga a figura.
P.S. - Se me responderes, mãe sublime, envia a carta para Chantepleurs, agora vou.
2012/09/05
A quatre heures du matin, l’été
Le sommeil d’amour dure encore.
Sous les bocages s’évapore
L’odeur du soir fêté.
Là-bas, dans leur vaste chantier
Au soleil des Hespérides,
Déjà s’agitent ― en bras de chemise ―
Les Charpentiers.
Dans leurs Déserts de mousse, tranquilles,
Ils préparent les lambris précieux
Où la ville
Peindra de faux cieux.
O, pour ces Ouvriers charmants
Sujets d’un roi de Babylone,
Vénus! quitte un instant les Amants
Dont l’âme est en couronne.
O Reine des Bergers,
Porte aux travailleurs l’eau-de-vie,
Que leurs forces soient en paix
En attendant le bain dans la mer à midi.
ARTHUR RIMBAUD, França
in “Une Saison en Enfer”, 1873
Às quatro da manhã, no Verão
O sono de amor dura ainda.
Sob os arbustos evapora-se
O odor da noite festejada.
Lá longe, no vasto estaleiro
Ao sol das Hespérides,
Já se agitam ― em mangas de camisa ―
Os Carpinteiros.
Nos Desertos de espuma, tranquilos,
Preparam os lambris preciosos
Onde a cidade
Pintará falsos céus.
Oh, pelos Operários encantadores
Súbditos dum rei da Babilónia,
Vénus! deixa um instante os Amantes
Cuja alma se engalanou.
Ó Rainha dos Pastores,
Leva aos trabalhadores a aguardente,
Que as suas forças se aquietem
Enquanto esperam o banho no mar ao meio-dia.
Le sommeil d’amour dure encore.
Sous les bocages s’évapore
L’odeur du soir fêté.
Là-bas, dans leur vaste chantier
Au soleil des Hespérides,
Déjà s’agitent ― en bras de chemise ―
Les Charpentiers.
Dans leurs Déserts de mousse, tranquilles,
Ils préparent les lambris précieux
Où la ville
Peindra de faux cieux.
O, pour ces Ouvriers charmants
Sujets d’un roi de Babylone,
Vénus! quitte un instant les Amants
Dont l’âme est en couronne.
O Reine des Bergers,
Porte aux travailleurs l’eau-de-vie,
Que leurs forces soient en paix
En attendant le bain dans la mer à midi.
ARTHUR RIMBAUD, França
in “Une Saison en Enfer”, 1873
Às quatro da manhã, no Verão
O sono de amor dura ainda.
Sob os arbustos evapora-se
O odor da noite festejada.
Lá longe, no vasto estaleiro
Ao sol das Hespérides,
Já se agitam ― em mangas de camisa ―
Os Carpinteiros.
Nos Desertos de espuma, tranquilos,
Preparam os lambris preciosos
Onde a cidade
Pintará falsos céus.
Oh, pelos Operários encantadores
Súbditos dum rei da Babilónia,
Vénus! deixa um instante os Amantes
Cuja alma se engalanou.
Ó Rainha dos Pastores,
Leva aos trabalhadores a aguardente,
Que as suas forças se aquietem
Enquanto esperam o banho no mar ao meio-dia.
2012/08/26
2012/08/01
2012/07/27
L. também disse: «A pessoa errada somos nós. O brilho descobre a sombra desconhecida, a sedução ateia tudo e o fogo escapa-se.» Então, mas o desejo é assim. «Até um pequeno carácter pode seduzir mais do que o amor. Quase sem nada. Sexo, cabeça ou coração.» Mas o desejo é assim. L. é muito novo - mas sabedoria e amor não têm idade.
2012/06/10
Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade,
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se dúa outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas
Se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela ouviu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.
LUÍS VAZ DE CAMÕES, Portugal,
c. 1570
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade,
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se dúa outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas
Se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela ouviu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.
LUÍS VAZ DE CAMÕES, Portugal,
c. 1570
2012/05/27
A primeira surpresa foi o assunto: Domingos observou que tinha comprado tudo o que é necessário para escrever, mas faltava-lhe o assunto. Tinha-se esquecido do assunto; não pode uma pessoa lembrar-se de tudo, nem admira, a primeira vez... E o assunto não vinha. Havia umas palavras que apareciam em cima de textos por escrever, palavras impressas em letras maiores, distintas, mas estas palavras sofriam de falta de novidade, estavam cansadas de servir de título a tantos, que precisam de ganhar dinheiro para levar para casa, coitados.
JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS, Portugal,
in "O Homem Que Não Sabe Escrever ", 1917
JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS, Portugal,
in "O Homem Que Não Sabe Escrever ", 1917
2012/05/23
Elles burent en silence, courtoises comme les bêtes qui font trêve au bord d'un ruisseau. Elles étaient diversement marquées par l'émotion: Jane rouge aux pommettes, et Fanny pâle, avec des cernes charbonnés autour des yeux, et une bouche démaquillée, d'un mauve nègre. Fanny fit entendre, après qu'elle eut bu, un grand soupir de fatigue, et Jane esquissa de nouveau un geste de sa main autour de la joue arrondie, sans la toucher:
COLETTE, França, La seconde, 1929
Elas beberam em silêncio, com a cortesia dos animais que fazem uma pausa à beira dum regato. A emoção marcava-as de maneira diversa: Jane com as maçãs do rosto coradas, e Fanny pálida, com olheiras tom de carvão em redor dos olhos, e uma boca sem pintura, dum malva negro. Fanny fez ouvir, depois de ter bebido, um grande suspiro de cansaço, e Jane esboçou de novo um gesto com a mão em volta da face arredondada, sem a tocar:
COLETTE, França, La seconde, 1929
Elas beberam em silêncio, com a cortesia dos animais que fazem uma pausa à beira dum regato. A emoção marcava-as de maneira diversa: Jane com as maçãs do rosto coradas, e Fanny pálida, com olheiras tom de carvão em redor dos olhos, e uma boca sem pintura, dum malva negro. Fanny fez ouvir, depois de ter bebido, um grande suspiro de cansaço, e Jane esboçou de novo um gesto com a mão em volta da face arredondada, sem a tocar:
2012/05/13
Si ça ne va pas
Tu peux toujours aller la voir
Tu demanderas
La Poésie
On t'ouvrira
Même si elle n'est pas là
D'ailleurs elle n'est pas là
Mais dans la tête d'un fou
Ou bien chez des voyous
Habillés de chagrin
Qui vont par les chemins
Chercher leur bonne amie
La Poésie
LÉO FERRÉ, France, 1976
Se a coisa correr mal
Podes sempre ir vê-la
Perguntas
Pela Poesia
Abrem-te a porta
Mesmo que ela não esteja
Aliás ela não está
Está na cabeça dum louco
Ou junto dos vagabundos
Que se cobrem de desgosto
E vão pelos caminhos
Em busca da sua boa amiga
A Poesia
Tu peux toujours aller la voir
Tu demanderas
La Poésie
On t'ouvrira
Même si elle n'est pas là
D'ailleurs elle n'est pas là
Mais dans la tête d'un fou
Ou bien chez des voyous
Habillés de chagrin
Qui vont par les chemins
Chercher leur bonne amie
La Poésie
LÉO FERRÉ, France, 1976
Se a coisa correr mal
Podes sempre ir vê-la
Perguntas
Pela Poesia
Abrem-te a porta
Mesmo que ela não esteja
Aliás ela não está
Está na cabeça dum louco
Ou junto dos vagabundos
Que se cobrem de desgosto
E vão pelos caminhos
Em busca da sua boa amiga
A Poesia
2012/04/25
A life
on the ocean wave! A home on the rolling deep!
Where the scattered waters rave, and the winds their revels keep!
A life on the ocean wave! A home on the rolling deep!
Where the scattered waters rave, and the winds their revels keep!
Like an eagle caged I pine, on this dull unchanging shore.
Oh give me the flashing brine! The spray and the tempest roar!
A life on the ocean wave! A home on the rolling deep!
Where the scattered waters rave, and the winds their revels keep!
The winds, the winds, the winds their revels keep!
The winds, the winds, the winds their revels keep!
Uma vida na crista da onda! Um lar no abismo do oceano!
Onde as águas tumultuosas se erguem e os ventos se entregam à diversão!
Uma vida na crista da onda! Um lar no abismo do oceano!
Onde as águas tumultuosas se erguem e os ventos se entregam à diversão!
Como águia presa eu definho, nesta costa escura e estagnada.
Ó dai-me o sal faiscante! A espuma e o rugir da tempestade!
Uma vida na crista da onda! Um lar no abismo do oceano!
Onde as águas tumultuosas se erguem e os ventos se entregam à diversão!
Os ventos, os ventos, os ventos se entregam à diversão!
Os ventos, os ventos, os ventos se entregam à diversão!
Where the scattered waters rave, and the winds their revels keep!
A life on the ocean wave! A home on the rolling deep!
Where the scattered waters rave, and the winds their revels keep!
Like an eagle caged I pine, on this dull unchanging shore.
Oh give me the flashing brine! The spray and the tempest roar!
A life on the ocean wave! A home on the rolling deep!
Where the scattered waters rave, and the winds their revels keep!
The winds, the winds, the winds their revels keep!
The winds, the winds, the winds their revels keep!
EPES
SARGENT, U.S.A., 1838
Uma vida na crista da onda! Um lar no abismo do oceano!
Onde as águas tumultuosas se erguem e os ventos se entregam à diversão!
Uma vida na crista da onda! Um lar no abismo do oceano!
Onde as águas tumultuosas se erguem e os ventos se entregam à diversão!
Como águia presa eu definho, nesta costa escura e estagnada.
Ó dai-me o sal faiscante! A espuma e o rugir da tempestade!
Uma vida na crista da onda! Um lar no abismo do oceano!
Onde as águas tumultuosas se erguem e os ventos se entregam à diversão!
Os ventos, os ventos, os ventos se entregam à diversão!
Os ventos, os ventos, os ventos se entregam à diversão!
2012/04/15
A emoção de um dia ter chegado ao Viaduto do Chá, no centro de São Paulo, a maior cidade da América do Sul, e toda a gente falar português. Algo de nascença, que não precisa de tradução. Depois, ao correr do tempo, percebi aquele verso de Noel Rosa, "é brasileiro, já passou de português". Língua que a meio bifurca e segue o seu caminho, para um lado Ipanema, para outro Madureira, para um lado gaúcho, para outro sertanejo, e ainda veio o Rosa, João Guimarães, virar o sertão do avesso.
A minha pátria são muitas línguas portuguesas. Rendição é um termo de guerra. Pressupõe resistência e depois desistência. Como nunca estive em guerra com o Brasil prefiro trespasse, no sentido sexual.
ALEXANDRA LUCAS COELHO, Portugal,
Atlântico-Sul, "Público", 15.04.2012
A minha pátria são muitas línguas portuguesas. Rendição é um termo de guerra. Pressupõe resistência e depois desistência. Como nunca estive em guerra com o Brasil prefiro trespasse, no sentido sexual.
ALEXANDRA LUCAS COELHO, Portugal,
Atlântico-Sul, "Público", 15.04.2012
2012/04/03
About three years and a half ago, a disturbance very similar to the present was caused by the disappearance of this same Marie Rogêt from the parfumerie of Monsieur le Blanc, in the Palais Royal. At the end of a week, however, she reappeared at her customary comptoir, as well as ever, with the exception of a slight paleness not altogether usual. It was given out by Monsieur le Blanc and her mother that she had merely been on a visit to some friends in the country; and the affair was speedily hushed up. We presume that the present absence is a freak of the same nature, and that, at the expiration of a week or, perhaps, a month, we shall have her among us again.
EDGAR ALLAN POE, E.U.A.
in "The Mystery of Marie Rogêt", 1845
Há cerca de três anos e meio, uma perturbação muito semelhante à actual teve origem no desaparecimento da mesma Marie Rogêt da parfumerie de Monsieur le Blanc, no Palais Royal. Ao fim de uma semana, porém, reapareceu no seu comptoir habitual, tão bem como sempre, à excepção duma leve palidez nada usual. Foi comunicado por Monsieur le Blanc e pela mãe dela que ela fora somente visitar uns amigos ao campo; e rapidamente o caso foi silenciado. Presumimos que a actual ausência seja um logro da mesma natureza e que, ao fim duma semana, ou talvez de um mês, voltaremos a tê-la de novo entre nós.
EDGAR ALLAN POE, E.U.A.
in "The Mystery of Marie Rogêt", 1845
Há cerca de três anos e meio, uma perturbação muito semelhante à actual teve origem no desaparecimento da mesma Marie Rogêt da parfumerie de Monsieur le Blanc, no Palais Royal. Ao fim de uma semana, porém, reapareceu no seu comptoir habitual, tão bem como sempre, à excepção duma leve palidez nada usual. Foi comunicado por Monsieur le Blanc e pela mãe dela que ela fora somente visitar uns amigos ao campo; e rapidamente o caso foi silenciado. Presumimos que a actual ausência seja um logro da mesma natureza e que, ao fim duma semana, ou talvez de um mês, voltaremos a tê-la de novo entre nós.
2012/03/27
Gazon insoucieux de nos péchés
comme par hasard au nombre de
sept.
Un prisme vous capture arc-en-
ciel qui finissez vos jours en prison.
Insensible au chatoiement de vos
crimes l'ice-cream prouve l'ingé-
nuité de nos dinettes.
RAYMOND RADIGUET, França,
"Couleurs sans Danger", 1920
Relva indiferente aos nossos pecados
como por acaso em número de
sete.
Um prisma aprisiona-vos arco-
íris que acabais vossos dias na prisão.
Insensível ao cintilar dos vossos
crimes o ice-cream comprova a inge-
nuidade dos nossos jantarinhos.
comme par hasard au nombre de
sept.
Un prisme vous capture arc-en-
ciel qui finissez vos jours en prison.
Insensible au chatoiement de vos
crimes l'ice-cream prouve l'ingé-
nuité de nos dinettes.
RAYMOND RADIGUET, França,
"Couleurs sans Danger", 1920
Relva indiferente aos nossos pecados
como por acaso em número de
sete.
Um prisma aprisiona-vos arco-
íris que acabais vossos dias na prisão.
Insensível ao cintilar dos vossos
crimes o ice-cream comprova a inge-
nuidade dos nossos jantarinhos.
2012/01/30
Ich habe ewig an dir zu atmen; meine Brust wird nie aufhören dich in sich zu ziehn. Du bist die göttliche Herrlichkeit, das ewige Leben in der lieblichsten Hülle. - Ach Heinrich, du weisst das Schicksal der Rosen; wirst du auch die welken Lippen, die bleichen Wangen mit Zärtlichkeit an deine Lippen drücken? Werden die Spuren des Alters nicht die Spuren der vorübergegangenen Liebe sein? - O! könntest du durch meine Augen in mein Gemüt sehn! aber du liebst mich, und so glaubst du mir auch. Ich begreife das nicht, was man von der Vergänglichkeit der Reize sagt. O! sie sind unverwelklich. Was mich so unzertrennlich zu dir zieht, was ein ewiges Verlangen in mir geweckt hat, das ist nicht aus dieser Zeit. Könntest du nur sehn, wie du mir erscheinst, welches wunderbare Bild deine Gestalt durchdringt und mir überall entgegen leuchtet, du würdest kein Alter fürchten. Deine irdische Gestalt ist nur ein Schatten dieses Bildes. Die irdischen Kräfte ringen und quellen, um es festzuhalten, aber die Natur ist noch unreif; das Bild ist ein ewiges Urbild, ein Teil der unbekannten heiligen Welt.
NOVALIS, Alemanha,
in Heinrich von Ofterdingen, 1799
«Tu és o ar que tenho de respirar eternamente: o meu peito nunca deixará de te trazer dentro de si. Tu és a magnificência divina, a vida eterna sob o invólucro mais amável.» - «Infelizmente, Heinrich, conheces o destino das rosas: os lábios murchos e as faces pálidas, ainda as encostarás aos lábios com ternura? As marcas da idade não são os vestígios do amor passado?» - «Ah, se pudesses ler na minha alma através dos meus olhos! Mas tu amas-me, por isso acreditas em mim. Não compreendo como se pode falar de encantos passageiros. Não, não podem murchar. O que me liga a ti indissoluvelmente, o que despertou em mim um desejo eterno não é uma coisa que dependa do Tempo. Ah, se pudesses ver-te como eu te vejo, a imagem maravilhosa que brilha através da tua forma sensível e ilumina tudo, dentro e fora de mim, não recearias velhice nenhuma. A tua forma terrestre mais não é do que uma sombra dessa imagem; as forças telúricas lutam e batem-se para a manter estável, mas a natureza ainda não alcançou a maturidade; quanto à imagem, é um arquétipo eterno, um elemento do mundo divino e desconhecido.»
NOVALIS, Alemanha,
in Heinrich von Ofterdingen, 1799
«Tu és o ar que tenho de respirar eternamente: o meu peito nunca deixará de te trazer dentro de si. Tu és a magnificência divina, a vida eterna sob o invólucro mais amável.» - «Infelizmente, Heinrich, conheces o destino das rosas: os lábios murchos e as faces pálidas, ainda as encostarás aos lábios com ternura? As marcas da idade não são os vestígios do amor passado?» - «Ah, se pudesses ler na minha alma através dos meus olhos! Mas tu amas-me, por isso acreditas em mim. Não compreendo como se pode falar de encantos passageiros. Não, não podem murchar. O que me liga a ti indissoluvelmente, o que despertou em mim um desejo eterno não é uma coisa que dependa do Tempo. Ah, se pudesses ver-te como eu te vejo, a imagem maravilhosa que brilha através da tua forma sensível e ilumina tudo, dentro e fora de mim, não recearias velhice nenhuma. A tua forma terrestre mais não é do que uma sombra dessa imagem; as forças telúricas lutam e batem-se para a manter estável, mas a natureza ainda não alcançou a maturidade; quanto à imagem, é um arquétipo eterno, um elemento do mundo divino e desconhecido.»
2012/01/26
Die Sprache, sagte Heinrich, ist wirklich eine kleine Welt in Zeichen und Tönen. Wie der Mensch sie beherrscht, so möchte er gern die grosse Welt beherrschen, und sich frei darin ausdrücken können. Und eben in dieser Freude, das, was ausser der Welt ist, in ihr zu offenbaren, das tun zu können, was eigentlich der ursprüngliche Trieb unsers Daseins ist, liegt der Ursprung der Poesie.
Es ist recht übel, sagte Klingsohr, dass die Poesie einen besondern Namen hat, und die Dichter eine besondere Zunft ausmachen. Es ist gar nichts Besonderes. Es ist die eigentümliche Handlungsweise des menschliches Geistes. Dichtet und trachtet nicht jeder Mensch in jeder Minute? - Eben trat Mathilde ins Zimmer, als Klingsohr noch sagte: Man betrachte nur die Liebe. Nirgends wird wohl die Notwendigkeit der Poesie zum Bestand der Menschheit so klar, als in ihr. Die Liebe ist stumm, nur die Poesie kann für sie sprechen.
Oder die Liebe ist selbst nichts, als die höchste Naturpoesie. Doch ich will dir nicht Dinge sagen, die du besser weisst als ich.
NOVALIS, Alemanha,
in Heinrich von Ofterdingen, 1799
«A linguagem,» disse Heinrich, «é de facto um pequeno universo feito de signos e de sons. Tal como domina a linguagem, o homem gostaria de dominar o vasto mundo e de poder expressar-se nele livremente. É precisamente nesta alegria de poder manifestar no universo o que está fora dele e de satisfazer o impulso verdadeiro e primordial do nosso ser, que se encontra a origem da poesia.»
«É na verdade lamentável,» disse Klingsohr, «que a poesia tenha um nome particular e que os poetas formem uma corporação à parte. A poesia não é uma coisa à parte. Ela é o modo de actividade próprio do espírito humano. Os homens não inventam e fantasiam a cada minuto?» - Mathilde entrou na sala, no momento em que Klingsohr acrescentava: «Basta considerarmos o amor. Em nenhuma outra coisa se revela tão claramente a necessidade da poesia para a permanência da espécie humana. O amor é mudo, só a poesia pode falar em nome dele.»
«Ou o próprio amor não é senão a mais alta natureza da poesia. Mas não quero ensinar-te coisas que conheces melhor do que eu.»
Es ist recht übel, sagte Klingsohr, dass die Poesie einen besondern Namen hat, und die Dichter eine besondere Zunft ausmachen. Es ist gar nichts Besonderes. Es ist die eigentümliche Handlungsweise des menschliches Geistes. Dichtet und trachtet nicht jeder Mensch in jeder Minute? - Eben trat Mathilde ins Zimmer, als Klingsohr noch sagte: Man betrachte nur die Liebe. Nirgends wird wohl die Notwendigkeit der Poesie zum Bestand der Menschheit so klar, als in ihr. Die Liebe ist stumm, nur die Poesie kann für sie sprechen.
Oder die Liebe ist selbst nichts, als die höchste Naturpoesie. Doch ich will dir nicht Dinge sagen, die du besser weisst als ich.
NOVALIS, Alemanha,
in Heinrich von Ofterdingen, 1799
«A linguagem,» disse Heinrich, «é de facto um pequeno universo feito de signos e de sons. Tal como domina a linguagem, o homem gostaria de dominar o vasto mundo e de poder expressar-se nele livremente. É precisamente nesta alegria de poder manifestar no universo o que está fora dele e de satisfazer o impulso verdadeiro e primordial do nosso ser, que se encontra a origem da poesia.»
«É na verdade lamentável,» disse Klingsohr, «que a poesia tenha um nome particular e que os poetas formem uma corporação à parte. A poesia não é uma coisa à parte. Ela é o modo de actividade próprio do espírito humano. Os homens não inventam e fantasiam a cada minuto?» - Mathilde entrou na sala, no momento em que Klingsohr acrescentava: «Basta considerarmos o amor. Em nenhuma outra coisa se revela tão claramente a necessidade da poesia para a permanência da espécie humana. O amor é mudo, só a poesia pode falar em nome dele.»
«Ou o próprio amor não é senão a mais alta natureza da poesia. Mas não quero ensinar-te coisas que conheces melhor do que eu.»
2012/01/24
Da hörte er jenes einfache Lied wieder. Er lief den Tönen nach. Auf einmal hielt ihn jemand am Gewande zurück. Lieber Heinrich, rief eine bekannte Stimme. Er sah sich um, und Mathide schloss ihn in ihre Arme. Warum liefst du vor mir, liebes Herz, sagte sie tiefatmend. Kaum konnte ich dich einholen. Heinrich weinte. Er drückte sie an sich. - Wo ist der Strom, rief er mit Tränen. Siehst du nicht seine blauen Wellen über uns? Er sah hinauf, und der blaue Strom floss leise über ihrem Haupte. Wo sind wir, liebe Mathilde? Bei unsern Eltern. Bleiben wir zusammen? Ewig, versetzte sie, indem sie ihre Lippen an die seinigen drückte, und ihn so umschloss, dass sie nicht wieder von ihm konnte. Sie sagte ihm ein wunderbares, geheimes Wort in den Mund, was sein ganzes Wesen durchklang. Er wollte es wiederholen, als sein Grossvater rief und er aufwachte. Er hätte sein Leben darum geben mögen, das Wort noch zu wissen.
NOVALIS, Alemanha,
in Heinrich von Ofterdingen, 1799
Então ele voltou a ouvir a canção singela. Correu ao encontro da melodia. De repente alguém lhe pegou nas vestes. «Querido Heinrich,» exclamou uma voz conhecida. Voltou-se e Mathilde prendeu-o nos braços. «Porque fugias à minha frente, meu coração, meu querido?» disse ela a recobrar fôlego. «Eu mal podia alcançar-te.» Heinrich chorava. Apertou-a contra o peito. «Onde está o rio?» exclamou por entre lágrimas. «Não vês as águas azuis por cima de nós?» Ele ergueu os olhos; a corrente azul fluía suavemente sobre as duas cabeças. «Onde estamos, querida Mathilde?» «Em casa de nossos pais.» «Ficaremos juntos?» «Eternamente», respondeu ela encostando os lábios aos dele e enlaçando-o tão firmemente, que já não podia separar-se. Pronunciou-lhe na boca uma palavra maravilhosa e mágica, que ressoou em todo o seu ser. Ele queria repeti-la, quando o avô o chamou e ele acordou. De bom grado teria dado a vida, para saber de novo a palavra.
NOVALIS, Alemanha,
in Heinrich von Ofterdingen, 1799
Então ele voltou a ouvir a canção singela. Correu ao encontro da melodia. De repente alguém lhe pegou nas vestes. «Querido Heinrich,» exclamou uma voz conhecida. Voltou-se e Mathilde prendeu-o nos braços. «Porque fugias à minha frente, meu coração, meu querido?» disse ela a recobrar fôlego. «Eu mal podia alcançar-te.» Heinrich chorava. Apertou-a contra o peito. «Onde está o rio?» exclamou por entre lágrimas. «Não vês as águas azuis por cima de nós?» Ele ergueu os olhos; a corrente azul fluía suavemente sobre as duas cabeças. «Onde estamos, querida Mathilde?» «Em casa de nossos pais.» «Ficaremos juntos?» «Eternamente», respondeu ela encostando os lábios aos dele e enlaçando-o tão firmemente, que já não podia separar-se. Pronunciou-lhe na boca uma palavra maravilhosa e mágica, que ressoou em todo o seu ser. Ele queria repeti-la, quando o avô o chamou e ele acordou. De bom grado teria dado a vida, para saber de novo a palavra.
2012/01/01
Que se o céo fora quadrado,
não fora redondo, senhor.
E se o Sol fora azulado,
d'azul fora a sua cor,
e não fora assi dourado.
E porque está governado
por seus cursos naturais,
neste mundo onde morais
nenhum homem aleijado,
se for manco e corcovado,
não corre por isso mais.
E assi os corpos celestes
vos trazem tão compassados,
que todos quantos nacestes
se nacestes e crecestes
primeiro fostes gerados.
E que fazem os poderes
dos sinos resplandecentes?
Fazem que todalas gentes
ou são homens ou molheres,
ou crianças inocentes.
GIL VICENTE, Portugal,
in "Auto da Feira", 1527
não fora redondo, senhor.
E se o Sol fora azulado,
d'azul fora a sua cor,
e não fora assi dourado.
E porque está governado
por seus cursos naturais,
neste mundo onde morais
nenhum homem aleijado,
se for manco e corcovado,
não corre por isso mais.
E assi os corpos celestes
vos trazem tão compassados,
que todos quantos nacestes
se nacestes e crecestes
primeiro fostes gerados.
E que fazem os poderes
dos sinos resplandecentes?
Fazem que todalas gentes
ou são homens ou molheres,
ou crianças inocentes.
GIL VICENTE, Portugal,
in "Auto da Feira", 1527
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