2008/03/29
















FLORENT, New York City

2008/03/27


Çerra a serpente os ouuydos
aa voz do encantador,
eu nam, e aguora com dor
quero perder meus sentidos.

Os que mais sabem do mar
fogem d'ouuir as sereas;
eu nam me soube guardar:
fuy-vos ouuir nomear,
fyz minh'alma e vida alheas.

FRÃÇISCO DE SAA, Portugal, Esparça, c. 1488

2008/03/23

2008/03/19




Passa no sopro da aragem
Que um momento o levantou
Um vago anseio de viagem
Que o coração me toldou.

Será que em seu movimento
A brisa lembre a partida,
Ou que a largueza do vento
Lembre o ar livre da ida?

Não sei, mas subitamente
Sinto a tristeza de estar
O sonho triste que há rente
Entre sonhar e sonhar.

FERNANDO PESSOA, Portugal,
in "O Peso de Haver o Mundo", 19-5-1932

2008/03/15


We move in five dimensions you must know:
First, revolving; second, orbiting the sun;
Third, tied to the sun in unearthly slow
Galactic revolution; fourth, the one

That splits astronomers, our rapid flight
From other galaxies; and fifth, the way
We walk about on earth – the speed of light
Not being in our picture of the day.

But I believe there is another trace
Of movement that has some significance
To our minute position in all space:

This is a movement dependent on chance.
It is the way a look, a touch, can give
An absolute necessity to live.

ALAN BOLD, U.K., “Six Dimensions”, 1967




Avançamos em cinco dimensões que vos são conhecidas:
Primeira, rotação; segunda, gravitação na órbita do sol;
Terceira, presos ao sol numa lenta e perfeita
Revolução galáctica; quarta, aquela

Que divide astrónomos, a nossa fuga célere
De outras galáxias; e quinta, a maneira
Como deambulamos sobre a terra – em que a velocidade
Da luz não figura na ordem do dia.

Mas creio que há outro rasto
De movimento com algum significado
Para a nossa diminuta posição em todo o espaço:

É um movimento dependente do acaso.
É o modo como um olhar, um toque podem dar
Uma necessidade absoluta de viver.

2008/03/09


De onde eu concluo que Portugal, recusando-se ao menor passo nas letras e na ciência para merecer o respeito da Europa inteligente, mostra, à maneira do vadio de Caracas, o desprezo mais soberano pelas opiniões da civilização. Se o Brasil, pois, tem essa qualidade eminente de se interessar pelo que diz o mundo culto, deve-o às excelências da sua natureza, de modo nenhum ao seu sangue português: como português, o que era lógico que fizesse era voltar as costas à Europa, puxando mais para as orelhas o cabeção do capote...

EÇA DE QUEIROZ, Portugal, in "O Brasil e Portugal",
Cartas de Inglaterra, 1878

2008/03/07




He stood in her little garden; the long window of her parlour was open, and he could see the white curtains, with the lamplight shining through them, swaying softly to and fro in the warm night-wind. There was a sort of excitement in the idea of seeing Madame Münster again; he became aware that his heart was beating rather faster than usual. It was this that made him stop, with a half-amused surprise.

HENRY JAMES, E.U.A, in “The Europeans”, 1878



Estava de pé no jardinzinho dela; a grande janela da sala estava aberta e ele via o brilho do candeeiro através das cortinas brancas, que ondulavam brandas ao vento quente da noite. Havia uma espécie de excitação à ideia de voltar a ver Madame Münster; teve consciência de que o coração lhe batia bastante mais depressa do que o habitual. Foi isso que o fez parar, entre divertido e surpreso.

2008/03/03


And what of the half a million leftover embryos, which now nestle in nitrogen? «What you do with the frozen embryos you don’t use is your decision and yours alone», says the American Fertility Association. But it is not so simple. Are they people – or property? Stored embryos have been treated as part of an estate and the center of custody fights, like the Porsche or the puppy. Conservatives promote adoption as an answer, but some patients don’t want their genetic offspring being raised by other people.

in NANCY GIBBS’ Essay, TIME (Março 2008)



E o que fazer com meio milhão de restos de embriões, confortavelmente instalados em azoto? «O que você faz com os embriões congelados que não utiliza é uma decisão única e exclusivamente sua», diz a Associação Americana de Fertilidade. Mas não é tão simples. São pessoas... ou são propriedade? Os embriões armazenados têm sido tratados como bens e a sua guarda é disputada - como o Porsche ou o cachorro. Os conservadores defendem a solução da adopção, mas alguns pacientes não querem que a sua prole genética seja criada por outras pessoas.