2010/01/29
Dieu a fabriqué le monde comme une grande machine que sa seule sagesse pouvait inventer, que sa seule puissance pouvait construire. O homme! Il t'a établi pour t'en servir; il a mis, pour ainsi dire, en tes mains toute la nature pour l'appliquer à tes usages; il t'a même permis de l'orner et de l'embellir par ton art: car qu'est-ce autre chose que l'art, sinon l'embellissement de la nature? Tu peux ajouter quelques couleurs pour orner cet admirable tableau; mais comment pourrais-tu faire remuer tant soit peu une machine si forte et si délicate, ou de quelle sorte pourrais-tu faire seulement un trait convenable dans une peinture si riche, s'il n'y avait en toi-même et dans quelque partie de ton être quelque art dérivé de ce premier art, quelques secondes idées tirées de ces idées originales, en un mot, quelque ressemblance, quelque écoulement, quelque portion de cet Esprit ouvrier qui a fait le monde?
JACQUES-BÉNIGNE BOSSUET, França,
in "Sermon sur la Mort", 1662
Deus fabricou o mundo como uma grande máquina que só a sua sabedoria podia inventar, que só o seu poder podia construir. Ó homem! Instalou-te para dele te servires; pôs, por assim dizer, em tuas mãos toda a natureza para a aplicares nos teus trabalhos; até permitiu que a ornamentasses e embelezasses com a tua arte; pois o que é a arte, senão embelezamento da natureza? Podes acrescentar algumas cores para ornar esse quadro admirável; mas como poderias alterar, ainda que pouco, máquina tão forte e tão delicada, ou de que modo poderias fazer um só risco ajustado a tão rica pintura, se não houvesse em ti próprio e em alguma parte do teu ser uma arte derivada dessa primeira arte, ideias segundas tiradas das ideias originais, enfim, uma semelhança, um derivar ou porção desse espírito laborioso que fez o mundo?
JACQUES-BÉNIGNE BOSSUET, França,
in "Sermon sur la Mort", 1662
Deus fabricou o mundo como uma grande máquina que só a sua sabedoria podia inventar, que só o seu poder podia construir. Ó homem! Instalou-te para dele te servires; pôs, por assim dizer, em tuas mãos toda a natureza para a aplicares nos teus trabalhos; até permitiu que a ornamentasses e embelezasses com a tua arte; pois o que é a arte, senão embelezamento da natureza? Podes acrescentar algumas cores para ornar esse quadro admirável; mas como poderias alterar, ainda que pouco, máquina tão forte e tão delicada, ou de que modo poderias fazer um só risco ajustado a tão rica pintura, se não houvesse em ti próprio e em alguma parte do teu ser uma arte derivada dessa primeira arte, ideias segundas tiradas das ideias originais, enfim, uma semelhança, um derivar ou porção desse espírito laborioso que fez o mundo?
2010/01/19
If you can still see how you could once have loved a person, you are still in love; an extinct love is always wholly incredible. One day not too long ago, in Laguna Beach, California, an architect named Bobby Lazar, went downtown to have a cup of coffee at the Café Zinc with his friend Albert Wong and Albert’s new wife, Dawn (who had, very sensibly, retained her maiden name). Albert and Dawn were still in that period of total astonishment that follows a wedding, grinning at each other like two people who have survived an air crash without a scratch, touching one another frequently, lucky to be alive. Lazar was not a cynical man and he wished them well, but he had also been lonely for a long time, and their happiness was making him a little sick.
MICHAEL CHABON, E.U.A., Ocean Avenue,
in “A Model World”, 1991
Se ainda conseguimos perceber como pudemos amar uma pessoa, ainda estamos apaixonados; um amor extinto é sempre totalmente inconcebível. Um dia, não há muito tempo, em Laguna Beach, Califórnia, um arquitecto chamado Bobby Lazar foi ao Café Zinc tomar um café com o amigo Albert Wong e a sua nova mulher, Dawn (que, muito sensatamente, mantivera o apelido de solteira). Albert e Dawn ainda se encontravam no período de completo assombro que se segue ao casamento, a sorrirem um para o outro como duas pessoas que sobrevivem a um desastre aéreo sem uma beliscadura e se tocam constantemente, felizes por estarem vivas. Lazar não era cínico e desejava-lhes tudo de bom, mas estava sozinho há muito tempo e a felicidade deles enjoava-o um bocado.
MICHAEL CHABON, E.U.A., Ocean Avenue,
in “A Model World”, 1991
Se ainda conseguimos perceber como pudemos amar uma pessoa, ainda estamos apaixonados; um amor extinto é sempre totalmente inconcebível. Um dia, não há muito tempo, em Laguna Beach, Califórnia, um arquitecto chamado Bobby Lazar foi ao Café Zinc tomar um café com o amigo Albert Wong e a sua nova mulher, Dawn (que, muito sensatamente, mantivera o apelido de solteira). Albert e Dawn ainda se encontravam no período de completo assombro que se segue ao casamento, a sorrirem um para o outro como duas pessoas que sobrevivem a um desastre aéreo sem uma beliscadura e se tocam constantemente, felizes por estarem vivas. Lazar não era cínico e desejava-lhes tudo de bom, mas estava sozinho há muito tempo e a felicidade deles enjoava-o um bocado.
2010/01/12
Mir ist oft, daß ich fragen müßt:
Du, Mutter, was hast du gesungen,
eh deinem blassen, blonden Jungen
der Schlaf die Wangen warm geküßt?
Hattest du damals sehr viel Gram?
Und weißt du, wie du aufgesprungen,
wenn deinem blassen, blonden Jungen
im tiefen Traum ein Weinen kam?
RAINER MARIA RILKE, Áustria,
in "Erste Gedichte - Advent", 1898
Sinto por vezes vir-me esta pergunta:
Mãe, que cantavas tu,
antes que o sono beijasse as faces
do teu menino pálido e loiro?
Tinhas então muitos desgostos?
E lembras-te como saltavas assustada
quando em profundo sonho chorava
o teu menino pálido e loiro?
(tradução de PAULO QUINTELA, Portugal, 1942)
Du, Mutter, was hast du gesungen,
eh deinem blassen, blonden Jungen
der Schlaf die Wangen warm geküßt?
Hattest du damals sehr viel Gram?
Und weißt du, wie du aufgesprungen,
wenn deinem blassen, blonden Jungen
im tiefen Traum ein Weinen kam?
RAINER MARIA RILKE, Áustria,
in "Erste Gedichte - Advent", 1898
Sinto por vezes vir-me esta pergunta:
Mãe, que cantavas tu,
antes que o sono beijasse as faces
do teu menino pálido e loiro?
Tinhas então muitos desgostos?
E lembras-te como saltavas assustada
quando em profundo sonho chorava
o teu menino pálido e loiro?
(tradução de PAULO QUINTELA, Portugal, 1942)
2010/01/04
2010/01/01
E ponde na cobiça um freio duro,
E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro,
Verdadeiro valor não dão à gente.
Milhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.
LUÍS DE CAMÕES, Portugal,
in "Os Lusíadas", Canto IX, 1572
E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vício da tirania infame e urgente;
Porque essas honras vãs, esse ouro puro,
Verdadeiro valor não dão à gente.
Milhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.
LUÍS DE CAMÕES, Portugal,
in "Os Lusíadas", Canto IX, 1572
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