2009/08/29


Ce que tu as gâché, que tu as laissé se gâcher et qui te gêne et te préoccupe, ton échec est pourtant cela même, qui ne dormant pas, est énergie, énergie surtout. Qu'en fais-tu?
...................................................................................
Tu es contagieux à toi-même, souviens-t'en. Ne laisse pas «toi» te gagner.

HENRI MICHAUX, França,
in "Poteaux d'Angle", 1971



O que estragaste, o que deixaste estragar e te incomoda e preocupa - o teu fracasso - é isso, não dorme e é energia, sobretudo energia. O que fazes com ele?
...................................................................................
És contagioso para ti mesmo, lembra-te. Não deixes que o «tu» te vença.

2009/08/16

Henri Fantin-Latour, Le Coin de Table, 1872 (pormenor)

A quatre heures du matin, l’été
Le sommeil d’amour dure encore.
Sous les bocages s’évapore
L’odeur du soir fêté.

Là-bas, dans leur vaste chantier
Au soleil des Hespérides,
Déjà s’agitent ― en bras de chemise ―
Les Charpentiers.

Dans leurs Déserts de mousse, tranquilles,
Ils préparent les lambris précieux
Où la ville
Peindra de faux cieux.

O, pour ces Ouvriers charmants
Sujets d’un roi de Babylone,
Vénus! quitte un instant les Amants
Dont l’âme est en couronne.

O Reine des Bergers,
Porte aux travailleurs l’eau-de-vie,
Que leurs forces soient en paix
En attendant le bain dans la mer à midi.


ARTHUR RIMBAUD, França
in “Une Saison en Enfer”, 1873



Às quatro da manhã, no Verão
O sono de amor dura ainda.
Sob os arbustos evapora-se
O odor da noite festejada.

Lá longe, no vasto estaleiro
Ao sol das Hespérides,
Já se agitam ― em mangas de camisa ―
Os Carpinteiros.

Nos Desertos de espuma, tranquilos,
Preparam os lambris preciosos
Onde a cidade
Pintará falsos céus.

Oh, pelos Operários encantadores
Súbditos dum rei da Babilónia,
Vénus! deixa um instante os Amantes
Cuja alma se engalanou.

Ó Rainha dos Pastores,
Leva aos trabalhadores a aguardente,
Que as suas forças se aquietem
Enquanto esperam o banho no mar ao meio-dia.

2009/08/08



O mais extraordinário nesta evolução consiste em os políticos, sucessivamente e enquanto classe profissional, terem acabado por se definir como um «Demi Monde», onde o número dos seus elementos que vive na fronteira do crime ou a ultrapassa só tem aumentado e nunca diminuído. A decadência moral e espiritual a que este fenómeno conduz está perfeitamente visível na institucionalização do cinismo, aquela atitude por meio da qual uma significativa maioria de pessoas hoje sabe que o facto de um político fazer uma asserção aumenta a possibilidade de esta ser falsa.

M. S. LOURENÇO, Portugal, 1936-2009
in "Os Degraus do Parnaso", 1991

2009/08/01


Well, it was a feminine household, and for that reason perhaps Gina felt less foreign in New York. She said that she loved the city, it had so many accommodations for women specifically. Everybody who arrived, moreover, already knew the place because of movies and magazines, and when John Kennedy said he was a Berliner, all of Berlin could have answered, "So? We are New Yorkers." There was no such thing as being strange here, in Gina's opinion.


SAUL BELLOW, Canada, in "A Theft", 1989



Bom, era uma casa feminina, e talvez por essa razão Gina se sentisse menos estrangeira em Nova Iorque. Ela dizia que adorava a cidade, que havia imensas comodidades, especialmente para as mulheres. Além de que toda a gente que chegava já conhecia o sítio por causa de filmes e revistas, e quando John Kennedy disse que era berlinense, Berlim em peso podia ter respondido: - E então? Nós somos novaiorquinos. - Isso de se ser um estranho aqui não existia, na opinião de Gina.