2008/11/23


The stars were public flowers, leaning tall stalks, watch-
ing; public flowers were stars.
The flowers were secretaries civil servants clerks inspect-
ing me, their stalks like legs of secretary birds.
The bird-beaked people, come to see and ask, were glare-
accusing mass of stars.


JEFF NUTTALL, U.K., in "In The Park", 1965




As estrelas eram flores públicas, altos caules inclinados,
- a observar; as flores públicas eram estrelas.
As flores eram secretárias funcionários públicos escrivães
- a inspeccionar-me, caules como pernas de serpentários.
As pessoas bico de pássaro chegavam viam e perguntavam,
fulminantes - acusadora massa de estrelas.

2008/11/09


O anúncio de Medvedev, na semana da eleição de Obama, de que a Rússia irá instalar os seus mísseis no enclave de Kalininegrado é um aviso, e um aviso sério. Ou Obama percebe os limites da tolerância da Rússia ao "cerco" do Ocidente e se coíbe de a provocar, ou recomeça uma hostilidade drástica não muito diferente da guerra fria. O auxílio técnico ao Irão e a próxima visita de Medvedev à Venezuela de Hugo Chávez são os primeiros sinais de que as coisas se deterioram. E se o Ocidente não inverter agora essa tendência, uma nova catástrofe se prepara para a América e a "Europa". Com a crise económica, a América "sobre-estendida" e a "Europa" desarmada, a Rússia do petróleo e do gás tem meios para criar o caos.

VASCO PULIDO VALENTE, Portugal,
in "Opinião", jornal Público, 9.11.2008

2008/11/08

fotografia ALEX BRANDON, Paris Match, 6 Nov 2008

No entanto, o que empresta à vitória de Barack Obama uma dimensão absolutamente inédita - e com um alcance tremendo para o futuro - é o facto de ele ter sido sufragado simbolicamente, de forma avassaladora, à escala universal. Se as eleições de 4 de Novembro tivessem sido não apenas americanas mas globais, Obama teria recebido porventura mais do que quatro quintos dos votos. Ele não é apenas um dos Presidentes mais votados na História recente americana, é também o Presidente do mundo - e, por isso, também, o nosso Presidente.

VICENTE JORGE SILVA, Portugal,
in jornal "SOL", 8.11.2008



Se fosse viva, Rosa Parks teria agora 95 anos e teria certamente votado Obama. A lendária activista que no dia 1 de Dezembro de 1955 se recusou a levantar-se no autocarro para dar o seu lugar a um branco, e depois lutou arduamente contra a segregação racial durante toda a sua vida, teria ficado muito contente com esta vitória e sentiria que era finalmente esta a América dos seus sonhos.

LAURINDA ALVES, Portugal,
in Jornal PÚBLICO, 07.11.2008

2008/11/07


Frente ao Apollo Theatre, milhares de O-ba-ma-O-ba-ma-O-ba-ma, alguns com tambores. Uma velha passa com duas rosas altas, radiante. Um matulão abraça uma mulher que lhe dá pela cintura. "Yessssss. Yessssss!" O chão está cheio de papéis "Yes, we can." As pessoas riem-se para pessoas que não conhecem como se esta noite as pessoas se passassem a conhecer de outra forma. "O-ba-ma-Oba-ma, baby!", suspiram duas raparigas abraçadas, atravessando a multidão.
É 1h23 da manhã. Um rapaz sobe para o tecto de uma paragem de autocarro e começa a gingar a anca. A multidão desata a dançar, dentro da paragem de autocarro e por toda a rua, dezenas de milhares de pessoas nos quarteirões em volta. Não há música. Esta é a música.

ALEXANDRA LUCAS COELHO, Portugal,
in "Viagens com bolso", Ípsilon, jornal Público 07.11.08

2008/11/05


Now is the winter of our discontent
Made glorious summer by this son of York;

WILLIAM SHAKESPEARE, U.K,
in "Richard III", acto I, cena I (1491)



Do Inverno do nosso descontentamento
fez Verão glorioso este filho de York;

2008/11/02


Sob a capa do "politicamente correcto", a América e a Europa não deixaram talvez nem o seu antigo racismo, nem a sua xenofobia; e continuam a execrar a homossexualidade e a lamentar a relativa "emancipação" das mulheres. Se Obama não ganhar (e espero fervorosamente que ganhe), a "tolerância" em que vivemos vai aparecer como a ilusão do século.

VASCO PULIDO VALENTE, Portugal,
in "Opinião", jornal Público, 2.11.2008