2013/12/21


Não recorras ao que já sabes do Natal,
mas coloca-te à espera
daquilo que de repente em teu coração
se pode revelar
Não  reduzas o Natal ao enredo dos símbolos
tornando-o um fragmento trémulo sem lugar
no concreto da vida

Não repitas apenas as frases que te sentes obrigado a dizer
como se o Natal devesse preencher um vazio
em vez de o desocultar

Não confundas os embrulhos com o dom
nem a acumulação de coisas com a possibilidade da festa:
o que recebes de graça
só gratuitamente poderás partilhar

Cuida do exterior sabendo que ele é verdadeiro
quando movido por uma alegria que vem de dentro

Uma só coisa merece ser buscada e celebrada, uma só:
o despertar de  uma Presença no fundo da alma

Por isso o Natal que é teu não te pertence
Só a outro o poderás pedir.


JOSÉ TOLENTINO DE MENDONÇA, Portugal, 2013